Poemas : 

Dias de chuva fazem sangrar

 
Dias de chuva fazem sangrar
 
Naquele momento eu descobri uma verdade:
noites de chuva fazem sangrar.
Contemplando a solidão revestida num olhar,
para não romper com o inevitável,
Eu deixei a chuva cair.

Ainda hoje recebo seus pingos ácidos.
Na varanda de meus pensamentos mais ocultos,
aquela dor renasce silente e pura, quase branca,
Fazendo de meus dias ofertas vãs.
As horas são nostálgicos versículos sem santidade.
O vento da noite atrofia meus sentidos.

São escuros os contornos da existência.
Uma noite sem estrelas: eu sigo o caminho.
Sinto tocar no rosto, unindo às lágrimas,
A mesma chuva que nasceu outrora
e que molhou meu rosto com segredos.
A dor e os trovões compõem sinfonias.

As ruas são tão intimas de quem nada tem.
Somos herdeiros de moléstias ancestrais
caminhando dementes com nossos sapatos sujos.
Dançamos molhados e loucos como num velho filme.
A chuva cai desconhecendo tudo.

Esquecer é uma dádiva que não disponho.
Amaldiçoado estou pela vivida memória do tempo,
por todas as chuvas, por todos os sentidos em combustão.
Meus versos dormem ao relento.
Meu corpo é a continuação da sarjeta que fiz morada.
E a chuva cai, contínua, inquiridora,
Lembrando sempre o axioma maldito:
dias de chuva fazem sangrar, sempre.


Eu sou a vertente mórbida de um anjo bom. A poesia trágica, o constante inconstante, o sopro gélido de uma noite fria. Creio ortodoxamente no que duvido, abrigo extremos, escrevo poemas em meio a balas de canhão. Odeio o lirismo covarde, as frases sem ...

 
Autor
roniel.oliveira
 
Texto
Data
Leituras
937
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.