Não me perguntes isso. Fazes-me sentir uma criança que ainda não sabe o valor das palavras. Pior, como um velho, que já não as distingue – sabes, as palavras, de tão usadas, parecem ficar todas iguais. Arredondadas, informes, polidas até ao esmaecimento dos caracteres.
Eu sei que para ti é importante. Sei a exacta preciosidade que buscas, na palavra que queres que eu te dê. Julgas que não sinto que precisas dela? Sinto, sim, mas... aí está, aí começa a dicotomia de sinais, que te confunde: eu tenho pejo em usá-la, por tanto a ter vilipendiado em toda a minha vida... Para mim, essa palavra soa a falso, é vazia de tudo, desvirtuada, não tem o peso que tu lhe atribuis. Para ti, que tão pouco a usaste, ela é ainda nova e repleta, brilhante e texturizada. Como hei-de explicar-te? Assim, como quando aprendemos na escola: a diferença entre significante e significado. Esse signo, para mim, já só é significante, já lhe perdi o significado, enquanto tu o vês com os teus olhos onde ainda cabe tudo, tudo - essência, forma, aura, cor, música, cheiro, gosto – gôsto.
"Gôsto", à antiga e inocente maneira de dizer. Gosto dessa palavra – "gosto", à renovada maneira de escrever. Gosto desse verbo – gostar. Mas esse, já tu usaste e gastaste tanto, na tua vida! Por isso o nosso pequeno fosso de incompreensão, de desacordo verbal. Tu subvalorizas o verbo gostar, eu resgato-lhe o preciosismo. Eu cansei-me da palavra que nunca me quis ter, tu queres a palavra que nunca conseguiste ter...
Não me perguntes mais por ela, não me perguntes. Gosto de ti. Gosto de gostar de ti. Mas o que eu amaria mesmo, era inventar uma palavra nova, para substituir aquela de que já perdi o sentido, e de que tu nunca conheceste sinais. Só, só para nós dois. Para colocar, com muitos cuidados, na palma da tua mão, quando os teus olhos indagassem os meus, Depois, fecharia a tua mão com a minha mão, o teu abraço com o meu abraço, a tua boca com a minha boca... e o nosso corpo saberia que nos entendemos, finalmente.
Teresa Teixeira