Sou lá das bandas do Areado, onde meu pai se encantou com uma terra, comprou-a e foi desbravando a machado. Meus pais, então, jovem casal, cheios de sonhos e coragem, foram morar numa casinha de sapê, no pé da serra. Como bagagens levaram apenas algumas ferramentas, mantimentos e uns petrechos mais, necessários para a grande aventura, ou melhor, para se estabelecerem lá naquele espaço que seria, doravante, para sempre, a morada deles: onde todos os sonhos seriam realizados. Naquela época não havia estrada, faziam-se, no mato, picada com foice e enxada. Naquele sertão, eram eles e Deus: e como tinham fé! Se de algo precisassem, por léguas, sequer “uma viva alma.”
Eles foram os primeiros a chegar naquele local, foram os desbravadores daquela terra de mata fechada e de belos cerrados: terra boa, com fartura de água, cheia de córregos por todo lado. Era um novo mundo, muitos perigos e riscos de todo tipo, contra os quais lutaram com destemor. Com otimismo, trabalhavam por um futuro promissor. Em suas mentes: aquela terra boa, natureza bruta era um esplendor! O sonho de uma grande família era o que fazia com que tivessem força e coragem para a luta, era a luz na senda, a trilha a seguir, o objetivo a conquistar!
Passa-se o tempo, vão chegando os filhos,... Muitas batalhas vencidas contra cobras, onças, tempestades, doenças,... Mas valia a pena cada gota de suor derramado, como recompensa via-se na roça a lavoura de arroz, feijão, milho,... Uma fartura! No coração só tinha lugar para alegria, os olhos brilhavam de felicidade! Aos poucos, chegam os vizinhos, já não estavam mais sozinhos. Cada sonho realizado era da dura luta, a recompensa. Constroem uma bela casa, com madeira de primeira, um grande curral de pura aroeira,... Abrem-se estradas só para carro de boi, que naquela época automóvel era impossível por lá, nem trator havia a léguas de distância! Só muito depois surgem os automóveis! Nas invernadas, de colonião e Jaraguá, cresce a boiada. Tudo abundância: porco, galinha, cavalo,... Na cozinha bolos, doces, queijo, requeijão, rapadura,... No pomar, frutas no tempo frio ou quente, sempre havia alguma deliciosa para se saborear. No jardim, flores multicolores e seus finos odores enchia o ar de perfume. Com a graça de Deus, o paiol, a tulha abarrotados durante o ano todo. Pena que não sou escritor de romance para narrar esta saga, escrevo crônicas e poemas em hora vaga.
Para encurtar a história: nem tudo foram flores, houve muito sofrimento e dores. Mas, o sonho realizou-se: formaram uma grande família, transformaram o lugar numa bela fazenda: Fazenda Barra Mansa! Legaram para a família seus exemplos de coragem, dignidade,...
Manoel De almeida