Pensar é nada, existência prolixa, do que tenderia a natural, sem explicações de maior ou menor grau. Que pensa, quem se olha pela primeira vez e encontra aí o silêncio, do que soube dizer-se, sem que houvesse porque calar, no momento em que, não sendo abstrato nem preciso, também não achou necessidade para justificar-se, e, por reciprocidade de um raro instante,
bastou-se a si mesmo? Nada. Se tal afrontamento coubesse aqui, que razão guardarias tu, de sublime olhar, depois de te confundires com a paisagem, aglutinante e quase sempre impessoal?
E é por isso que eu digo: existe para ser, em ti como no outro, porque se já pensaste, por mera casualidade que fosse, no que pensas vir a encontrar, ao cruzares-te no caminho, com esse outro alguém, que houvesse de cruzar-se também, do mesmo modo contigo, melhor fora um quarto vazio, rodeado de espelhos obtusos, onde a obrigação era apenas seres tu, sem ter sequer o porque olhar-te, quanto muito o pensamento, que já nem seria só teu, mas de todos quantos negaste a espontaneidade, de teu gesto corporal.
Jorge Humberto