Hoje eu esvaziei minha mente, joguei fora as lembranças
Porque guardar sentimentos remoidos, de saudades vãs
Fui desprezado pelo destino, não me trouxe as avenças
Só vivi de desamores, bradei aos céus, sol pelas manhãs
Não é fácil viver o opaco cinzento, quero ver a cor do dia
Este quarto cheirando a bafio, teias desfilam nas paredes
Cortina entre poeiras cansadas, sem vento, jáz balbúrdia
Estou abandonado no silêncio, em conspirações adredes
Tenho companheira, a solidão, ela ouve os meus lamentos
Tenho certeza, ela ronda o sonho, é presença de vil ilusão
Pensamentos difusos, filosofias descoradas, só fragmentos
Estou soçobrado neste coxim, dou às pulgas a alimentação
O que resta ainda de mim, vezes caminha dentro da alcova
Feito um fantasma desmorto, moribundo parado no tempo
O pitó abarrotado sob a cama, clama o despejo, uma cova
As parafinas descansam no pires, vela sobrevive ao vento
Pequena chama arde acesa. Vida! Ela mantém luz no pavio
Durante noite adentro, aqui aos poucos vai se consumindo
Embora seja uma questão, ensejo, eu bravamente luto a fio
Nunca ninguém esta pronto! Que fazer se já estou dirimindo!
Àqueles que se dizem imortal, tenha ciência, única certeza
A relutância, mero capricho, jamais escapará da penitência
O portal a nossa espera, fim dos planos, agora jáz, curteza
A consciência é concisa, deu sobreaviso, fim da existência...?
Geremias
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