POETA DAS RUAS
]Aspecto despojado, olhar penetrante,
Percorria vielas estreitas,
A qualquer hora do dia ou da noite.
Homem aconchegante, homem distante,
Fauno solitário.
Quem sabe vindo de lendas gregas,
Quem sabe passageiro do tempo.
Oferece aos homens alimento dos deuses,
Versos para entreter a velhice,
Que percorre vasos esclerosados
Por falta de sonhos.
Oferece, o visionário,
Poesias de origem desconhecida,
Versos tristes nascidos na sarjeta,
Versos alegres ungidos em alguma
Farândula decadente.
Aos homens que transitam amargurados,
Aos homens que não sorriem,
Fornece linimento que ameniza seus males.
Doa versos românticos
Ao intelectual afastado da paixão,
Distribui na festa dos ricos
Poesias que falam da miséria dos homens.
Alenta com meigas palavras
Aos que digerem por nós,
Todas as desgraças humanas.
Doa amargura aos bem aventurados.
Dá alegria aos que caminham
Por lúgubres destinos.
Vendedor de ilusões,
De canções tristes,
De sonhos impossíveis.
Trafega incólume por mundo indiferente.
Fiel escudeiro de um mundo de sonhos.
Misto de santo e demônio.
1975