António Casado__________ 17 Abril 2009
Publicado__________ Clamor do Vento
Registado __________ Depósito legal 306321/10
Editora__________ WorldArtFriend
Trabalho__________
SILÊNCIO, A NOITE VAI PASSAR
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Não tenho estrada…
Olho para todos os lados e não me encontro.
Nem lágrimas afloram aos meus olhos
Cansados e distantes…
Em cada copo de uísque trago o silêncio.
Embriago-me de pasmo e ódio e raiva
Por tudo o que desconheço
Porque nesta cruel solidão
Só posso dizer que te amo…
Te amo… te amo…
Não quero a luz do dia na minha garganta
Nem o sufoco do calor no meu anseio!
Quero uma onda de paz na ternura!
Um bafo do teu calor sobre a pele!
Porque me feres?
Porque me magoas?
Porque me arranham as tuas unhas?
Quero um clamor de justiça na minha aflição!
O desespero e a angústia já nem são dor…
É tão grande a chaga que nem existe pele
Que possa dizer que um dia
Cobriu este mísero corpo nu…
Ai! Que facadas o céu me atira impunemente…
Ó Deuses! Sou apenas mais um vagabundo
A apunhalar o peito dormente!
Não tenho dias… Nenhuma luz é clara…
Só um deserto de sombras
Arruína minha alma!
Eu
Destilado por tanto padecimento
Dissolvo num mergulho frio e hediondo
A raiva e o conflito dos nervos!
Acreditava que todas as aventuras
Eram parte de uma grande verdade…
Amava-te porque tu eras tu!
Oh! Como me enganava!
Como bebia fel a pensar ser água
Pura e cristalina…
Oh! Como me embriagavas de prazer!
Eu
Eterno experiente duma experiência vadia
Deixei-me enrodilhar nessa paixão
Nesse desejo, nesse querer…
Que hoje não é mais que uma espada de enxofre!
Que hoje me lambe as lágrimas de sorrir a sofrer!
Tanta punição! Tanta dor!
Foge-me a inspiração pelas pontas dos dedos feridos
Como a sombra do raiar da luz!
Tanto clamor!
Eu disse-te coração: - Não quero amar!
Todos os cantos do mundo
Ouviram o grito desesperado
O canto alucinado
O meu medo…
Agora da paixão
Resta a lágrima caída
Dos olhos de uma ave morta
Onde eu sou a flecha que a atingiu
E o espírito partido dela.
Ai…! Se ao estender a mão a tua
Viesse dormir sobre a minha
E um pedaço de sombra
Me aconchegasse nesta noite medonha…
- Tenho medo do escuro, sabes?
Ai…! Se ao pronunciar um nome - o teu
Saciasse o meu desejo
Então tu
Perfeito e belo
Talvez surgisses das sombras da indecisão
E me dissesses… Apenas dissesses…
Ai…! Levem-me ondas
Sepultai-me onde nunca veja a luz do dia!
Vinde! Vinde ao meu encontro
Oh aves do deserto!
Alimentai-vos do meu corpo doente!
Erguei-vos piratas do passado
Lançai-me com fúria sobre os conveses
Tomai meu corpo vil e violado!
Bebi…
De que importa o que bebo?
Morrer é tão-somente mais um dia.
O dia que eu não quero!
O dia que eu não tenho!
O dia…
Bebi…
Em cada trago vomito
A minha agonia…
Se alguma felicidade me assiste
É porque na minha ilha
A noite nunca parte
Nem amanhece o dia…