(fábula escrita em 1995)
Era uma vez, numa Floresta Encantada – terra do faz-de-conta, os bichos estavam comemorando uma grande vitória. Todos estavam muito felizes: tinham conseguido emancipação política. Agora, podiam escolher seus governantes e dar um basta ao secular governo dos leões, os quais detinham o poder através da força-bruta e de outras moedas de grande persuasão. Sim, fora decidido, por aclamação geral, que daí a um ano, a bicharada toda poderia votar, para eleger seu representante maior.
Em meio ao entusiasmo geral, começou-se a fazer as primeiras articulações entre as diversas classes de bichos, para ver quem concorreria a tão nobre cargo. As raposas que estão sempre à espreita para aplicar um novo golpe, viam ali uma grande chance. Reuniram-se e nomearam uma delas (a mais esperta, mais sagaz e também, mais inescrupulosa) para concorrer à eleição. A primeira coisa decidida na Convenção das raposas foi lançar um “plano que favorecesse todos os habitantes da floresta, inclusive priorizando os mais humildes”.
A massa, formada pelos bichos operários, ficou encantada com o plano da raposa. “Que sabedoria, que criatividade” e “Como fala bonito”. Comentavam entre si os animais. Coitados, eram incapazes de perceber que não havia nada de extraordinário na eloqüência da raposa. Isso era fruto dos muitos estudos que ela havia tido oportunidade de fazer. Diziam até que se diplomara em Selvologia (estudo das relações entre animais que vivem na mesma selva).
Também, pobres diabos, viviam para o trabalho, os operários – isto quando encontravam emprego. E eram tão pessimamente remunerados que mal se alimentavam. No pouco tempo que lhes sobrava, a classe dos bichos dominadores dava um jeito de entretê-los com alguns divertimentos: circos, esportes populares, novelas e a já famosa cachaça. Por isso, não se pode culpar a grande massa dos bichos pela triste cegueira em que viviam.
Mas, na classe dos bichos operários, havia também aqueles que, com muito esforço, coragem e dedicação, conseguiram se organizar e lutar em defesa dos interesses de sua comunidade e de toda nação florestal. Eles logo perceberam que as raposas estavam tramando um golpe. Então, nomearam um candidato, e puseram-se a alertar os menos avisados. Contudo, este candidato não tinha o brilho, a eloqüência da raposa; assim, os próprios correligionários não lhe deram muito crédito. E, diante da secular ignorância, ouviam-se comentários como estes: “Esse cara é um anarfabeto, num sabe nem falá”; o tatu dizia: “Eu que num voto nesse cara, ouvi falá que ele é cumunista, vai querê tomá o buraco que tenho lá no cafundó-do-juda”; outros contavam umas histórias escabrosas sobre comunistas, tais como comer criancinhas assadas no forno; etc.
Assim, realizou-se a tão esperada eleição. E como era de se esperar, a raposa ganhou por uma grande margem de votos. Agora, a bicharada vive triste, pois descobriram, tarde demais, o golpe das raposas, as quais hoje estão no poder, desfrutando todas as mordomias que o dinheiro fácil oferece e, praticando as maiores “raposices”, enquanto a Floresta, que não progredia, parou de vez, em uma triste situação de abandono. (Quando escrevi esta fábula, eu era acadêmico de Letras, na Uniderp: foi um texto que fiz naquele ano, como redação, e que me rendeu um DEZ! Peço aos leitores que o contextualize histórica e politicamente).
Moral da história: O cumulo da ignorância é não querer as mudanças necessárias, por medo de perder aquilo que não possui, seja bens matérias ou até mesmo à liberdade.
Manoel De almeida
Posto aqui neste site, esta minha fábula como um texto literário, não como instrumento para fazer política, se bem não nego, ela tem um teor político!