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Margô_T | Publicado: 30/08/2016 19:51 Atualizado: 30/08/2016 19:51 |
Da casa!
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Re: Morphético
Morphético… Uma mistura de Morfeu, o deus dos sonhos, e… “profético”? (dado o tom de versos como “Por um motivo qualquer/desconfiava/que nunca voltaria a dormir./Nunca.”?)
Afastando-me do título - ambíguo como os próprios sonhos que nos surgem reais até descerrarmos os olhos… - aproximo-me de um Morfeu terreno que “deveria estar lá/no lado que se fica/quando se vai do corpo/no sono”, mas “não estava” porque acordou, a meio da noite, achando que a noite já era dia, depois de ter estado em pleno sono (esse “morrer vivo do dia-a-dia”). Acordou sozinho ou com companhia (quem o saberá?), escrevendo já no ar um “L” bem inspirado (os teus recursos gráficos são demais…), de “pernas estendidas” mas “entendendo nada”… ainda meio estremunhado, provavelmente espreguiçando-se, tentando habituar-se, talvez, à luz do dia-noite. Lá fora, “O silêncio urbano acusava/a anarquia temporal/que fazem/os notívagos e insônes.”, esses que “Acordam quando se dorme e às vezes dormem quando o mundo acordou de estar acordado.” “Quase todos.”, na verdade… porque todos nós vamos dormindo, mesmo no dia-a-dia (ou especialmente no dia-a-dia), quando nos desligamos de nós próprios e entramos em “sistema automático”, repetindo/reproduzindo (sempre) os mesmos gestos - como qualquer máquina (com defeitos de fabrico) numa indústria… De olhos ainda “estrelados” da sua celestial viagem pelo domínio mirabolante dos sonhos, Morfeu fita o tecto “quase-branco/de encardido” e vê o “globo de luz” que lembra “uma lua” (talvez porque seja mesmo a lua, como nos elucidou o sujeito poético logo no início… mas Morfeu é morphético e sempre viverá mais etéreo do que nós, escapando-lhe estes detalhes). Levantando “as mãos”, Morfeu procura assegurar-se que ainda é Morfeu (o nosso Morfeu terreno, saliente-se, já que o Morfeu divino não se preocupa com estas – e outras – futilidades... sendo, aliás, muito dado a múltiplas metamorfoses, transmudando-se nos vários corpos amados dos corpos que sonham com os corpos amados… Morfeu, “um verdadeiro artista na imitação/de formas. Nenhum outro havia mais hábil a representar/o andar, as feições do rosto, o timbre de uma voz, do que ele.”, diz-nos Ovídio nas “Metamorfoses”). Mas, voltando às “mãos”… Morfeu procura um sinal irrefutável de que Kafka não teve lugar neste nosso momentâneo ídolo (com quem entretanto criámos empatia – culpa do autor), sendo as suas mãos “ainda/de primatas” e não “patas de insectos”… e fica, portanto, todo o leitor sossegado porque Morfeu é “gente ainda” ou, pelo menos, é tão gente como “as gentes” que conhece (argumento ainda mais consolador, diria…). As pálpebras de Morfeu não haviam, portanto-portanto (já foi um “portanto” isolado há bocado e estou com falta de discernimento para pensar em expressões com igual sentido, por isso abraço a redundância – culpa da morfina do Morfeu), sido tomadas por um pára-quedas kafkiano e, abençoada personagem!, o seu único estorvo é não dormir. Apesar do final feliz descrito, há um trecho ardiloso que fica a rondar-nos: “Por um motivo qualquer/desconfiava/que nunca voltaria a dormir./Nunca.” Morphético, pois então… Gostei! |