Pode dar risada, dizer que não acredita, mas o que eu vou contar é real, um fato acontecido nos anos 1970, na Penha-SP.
Minha irmã tinha um gato, macho, bonito, que, fora da época do cio, quando não estava dormindo, era metido a caçador de pardais.
Certa tarde, uma das vizinhas começou a chamar minha irmã, lá do portão, com seu jeito peculiar:
-Orga...
- Orgaaaa...
- Orgaaaaaaa!
Vale dizer que o nome de minha irmã é Olga, mas a dona Maria só sabia falar “Orga”, então, tudo bem!
A Olga saiu à janela lá de cima, nossa casa é um sobrado, e a senhora avisou:
- O teu gato subiu no poste. Está lá em cima. Liga para os bombeiros
Minha irmã olhou, e, realmente, sobre as travessas do poste, o querido gato, miando desesperado.
Ele tentara caçar uns pardais que estavam na árvore, e as aves voaram para o poste. Ele não titubeou; Um pulo, e lá estava ele, imaginando como descer, e, enquanto isso, miava, miava, miava...
Minha irmã começou a chamá-lo, mesmo da janela, para ver se ele descia, mas ele não estava muito confiante, então ela disse à vizinha:
- Não precisa chamar ninguém. Daqui há pouco ele desce.
e continuou o trabalho que estava fazendo.
Mais um pouco, e já era a campainha tocando.
- Orga, eu vou chamar os bombeiros.
Diante da insistência, disse-lhe que podia chamar, mas não precisava. Ela conhecia o felino.
Não demorou, e uma viatura enorme, de salvamento, do Corpo de Bombeiros da cidade de São Paulo, giroflex ligado, acompanhada dos olhares de toda a vizinhança, e da companhia de uma multidão de crianças, chega à rua.
O comandante olhou o gato lá em cima, avaliou as possibilidades, e designou um dos homens para “salva-lo”.
A energia do poste foi desligada, para evitar riscos.
Sabendo que um gato assustado é perigoso, o bombeiro, escolhido para a tarefa, vestiu a máscara, as luvas, para evitar arranhões, e, já com a escada encostada no poste, começou a subir.
A multidão, embaixo, torcendo. A garotada, entusiasmada, a Dona Maria preocupada...
Parecia final de campeonato de futebol!
Lá vai o bombeiro. Um degrau, outro, mais outro ...
Aos poucos vai se aproximando do topo do poste.
Silêncio total. Até o gato parou de miar, e o bombeiro, meio com medo, subiu mais um degrau...
Agora estava bem perto! Estendeu a mão, e...
Vlapt!
O gato deu um salto para o telhado mais próximo, mal pôs patas ali, já emendou o salto para a lateral do poste, e dali caiu em pé, na rua, correndo apavorado para dentro de nossa casa.
A multidão se dividiu. Alguns aplaudiam o bombeiro, outros gargalhavam com a agilidade do gato, outros balançavam a cabeça, e já começavam a comentar.
Uma festa!
O bravo soldado, meio envergonhado, meio decepcionado, desceu da escada, que foi recolhida rapidamente, e a viatura saiu, tocando brevemente a sirene, em cumprimento à multidão.
O gato?
O gatinho ficou bem, minha senhora.
Chegou no cantinho dele, tomou uma água, e foi dormir, que é o que ele fazia melhor.
A sua façanha, porém, se tornou mais uma história da Penha.
Velho Pescador