(fábula escrita em 2003)
Tudo corria bem no Atol das Aves: um país encantado onde os pássaros viviam livres e felizes. Às tardes, as garças brancas faziam sua revoada ao poente, num espetáculo de sincronia e leveza. As pombas brancas, as andorinhas,... milhares de outros pássaros canoros orgulhavam-se de viver no “país da liberdade, da justiça e da paz”. O condor, presidente daquele país, voava, com seus assessores, majestoso e com segurança o céu daquele paraíso.
Aquela paisagem atraía cada vez mais pássaros turistas, dos quais, muitos resolviam não mais sair de lá. Coitados, nem suspeitavam de que, num outro país muito distante, pássaros sisudos, de costumes ortodoxos e que tinham um conceito bem diferente de liberdade e de justiça, cujo líder – um urubuzão agoureiro (assim era chamado pelos felizes moradores do Atol) planejava um ataque surpresa e fulminante, com o intuito de abalar as estruturas do Paraíso. Motivo? Ah, isso é o que não faltava: inveja, orgulho, egoísmo, competição, vingança, política, religião, ciência,... Mas, neste caso, por incrível que pareça, diziam agir em nome da Justiça Divina.
Apos muitos anos de planejamento e treinamento de pássaros para a tétrica missão, enfim, chegou o dia marcado previamente para a execução do plano diabólico. Numa ação suicida, atingiram o “coração do paraíso”, com todo o ódio possível. Ou não seria ódio? Os habitantes do país dos pássaros sisudos diziam que era uma justa vingança; os liderados pelo urubuzão diziam que tudo que havia de bom no Atol, inclusive a paz e a segurança que lá desfrutavam fora roubados de países pobres e dependentes.
Num mundo globalizado como o daquela época foi possível os pássaros dos mais remotos países assistiram, em tempo real, ao vivo, o fulminante ataque. A passarada daquele país entrou em desespero geral. Indagavam:- Por quê? Até a sábia coruja, atônita, não entendia o porquê de tamanha loucura. (...)
Moral: o conceito de Justiça, na visão humana, é relativo.
Pergunte antes: - Justiça para quem?
Absoluta e perfeita, só a Justiça Divina.
Manoel De almeida