Há tempos, tornei-me ribeirinho,
Vivo a margem do lado de cá do Aqueronte!
Estou sempre às voltas com inundações,
Rio traiçoeiro, em cada enchente, leva multidões!
Nunca falta trabalho para Caronte, que – com sua barca,
Para uma viagem sem volta, alma das multidões embarca!
Vão todas para a outra margem do Aqueronte – queiram ou não,
Colher do que plantaram, conforme a Lei de ação e reação!
Caronte me espia, na torcida para que chegue logo meu dia!
Velho barqueiro, não quero fazer a passagem, por quê me vigia?
Se ao menos, como Dante, eu tivesse uma apaixonada Beatriz!
Mas a Vida me fez ribeirinho para viver sozinho – solidão ultriz!
Na verdade já nasci ribeirinho, as inundações são a saúde fragilizada!
Já molhei os pés nas águas do Aqueronte! Mas temos hora marcada!
Manoel De almeida