CRÍTICA OU DISPARATE
Fui abordado hoje por um “amigo” meu, que disse ser também meu leitor! Percebi logo que queria me dizer alguma coisa, mas não sabia como começar. Pensei “Oba, tenho aqui um leitor crítico” pois, sempre acatei com o maior respeito as críticas dos meus leitores. Mas, há que diferenciar crítica, seja ela construtiva ou destrutiva, de opiniões sem fundamento ou fundadas em preconceitos causados pelo orgulho e a ignorância humana.
Tratei logo de facilitar as coisas para que o meu interlocutor expusesse seu ponto de vista. Sentindo-se acolhido, não usou de meias palavras e disse: Manoel, acho que você está sendo muito ingênuo em postar todos seus poemas no Facebook e no Google. Parece que você acaba de escrever um poema e já vai postando, isso desvaloriza seus poemas, torna-os “lugar-comum” (sim, ele usou justamente esse termo)! E acrescentou, se um dia você resolve publicá-los em um livro, ninguém vai comprá-los, pois você está os dando de graça. Além disso, veja seus demais colegas poetas e os escritores famosos, jamais fazem isso, eles valorizam o que escrevem. Disse mais, meu “prestimoso amigo”: Veja os escritores “reconhecidos”, eles nem participam dessas redes sociais ou se participam evitam comentar os textos de autores principiantes.
Sinceramente, considero-me uma pessoa educada, que faz de tudo para não ferir o outro no que quer seja, mas também, admito, não sou educado o bastante a ponto de não me deixar atingir por tamanha desfaçatez da ignorância, da petulância, da prepotência, do descalabro,...
Por alguns segundos, mergulhei no mais profundo silêncio, porém, no meu mundo íntimo, lutei bravamente com pensamentos controversos! Primeiro, evidentemente, senti muita antipatia por aquele ser mesquinho ali na minha frente, não pelo que ele disse, propriamente, mas por ter se achado no direito de me julgar como se estivesse falando com um adolescente que precisasse ouvir umas verdades, e, que tivesse o dever de dar-lhe essa lição. Não, não sou orgulhoso, mas tenho amor próprio, mesmo porque, se eu não souber valorizar tudo que aprendi, a duras penas e com muita dedicação e toda minha experiência destes meus cinquenta e três anos de vida, quem o fará para mim? Juro, tentei, num esforço último, ver alguma coerência, algo que justificasse aquela fala, porém, não havia nada razoável que justificasse tal interpelação. Orgulho e vaidade, mesquinhez e pobreza de raciocínio,... foi o que vi na atitude do meu inquiridor.
Contudo, permaneci calmo, evitei dar qualquer explicação ou esclarecimento sobre o fato em questão, não o fiz por achar que aquela pessoa não merecia explicação alguma, mas, confesso, senti vontade de perguntar a ele se conhecia toda minha produção literária e dizer que o que eu posto no Facebook não é a metade do que escrevo; que muita coisa que posto no Facebook ou no Google é escrita só para postar ali; que muitos poemas que posto no Face são totalmente modificados depois, que é uma opção consciente postar meus textos lá; que nunca achei que fosse ficar rico ou famoso com meus poemas, que escrever poemas, para mim, é uma necessidade como a de respirar; que me sinto feliz só em saber que meus poemas estão sendo lidos por quem quer seja; que não tenho por guia e modelo senão minha consciência e não copio os demais poetas famosos ou não, a não ser no que eles tem de genial, nisso sim, estou sempre aprendendo com eles; que não sou boi para ter comportamento de manada; que sei escolher meu caminho; que tenho consciência que muitos dos meus colegas não postam com medo de desvalorizar seus poemas e sua pose de grande escritor, em contrapartida, nunca terão seus livros, seus textos lidos nem um terço dos que os meus são lidos no Facebook, nos sites onde publico meus poemas,... escrevem para as prateleiras das bibliotecas, das livrarias e para as traças; eu escrevo para as pessoas, meus textos são para ser lidos, isso é o que importa, ainda que a crítica, os comentários não fosse tão positivos quanto me tem sido.
Todavia, calei-me em tempo, disse apenas, colocando a devida ênfase nas palavras, que estava emocionando com a preocupação do tal fulano para comigo e que ficava imaginando como ele podia ter concluído tanta coisa sobre mim, sem me conhecer tão bem. Ia dizer mais alguma coisa, mas bateu-me um sentimento de piedade para com aquele ser mesquinho e pensei que, apesar da visão deturpada das coisas, ele não tinha culpa, era apenas uma vítima da ignorância humana, de uma sociedade consumista corrompida em seus reais valores e que tem ensinado às pessoas a deixarem de serem elas mesmas para seguir modelos fabricados pela mídia e pelos “formadores de opinião” cheios de empáfia, orgulho e pelo jogo de aparências, aos quais, nunca me deixei levar. Sou poeta, livre pensador e amo a liberdade.
Manoel De almeida