A presa
A observo...
Ela esgueira-se silenciosamente por
Entre as sombras de seus cílios negros...
Olha-me por entre suas frestas...
Seus olhares cheiram a volúpia, lascívia...
Carregados de luxúria, me devoram...
Ela guarda distância,
Fixa-me, como se medindo
O impacto que deve causar sobre mim o seu bote...
Agacha-se, levanta-se, agacha-se...
Ronrona lamuriante,
Mostra-se desprotegida,
Grunhe, contorcendo-se de cio...
De quando em quando se mostra agressiva,
Arreganha os dentes alvos, brilhantes,
Todo seu corpo desnuda-se exuberante,
Maravilhoso, ansiando ser domado,
Escravizado...
Observo-a...
Desde muito a tocaio,
Pantera negra de pelos luzidios,
Olhos felinamente hipnotizadores...
Não ouso romper a distância que nos separa,
Não agora...
Espero com paciência,
Preciso levá-la a inanição
Pela fome, pela sede de amor
Que nos consome...
Quem sabe, nesta madrugada,
Na campina fluminense,
Amanheçamos cadáveres felizes,
Comidos um pelo outro,
Sobre a relva orvalhada...