No jardim da casa redonda o vento sopra de norte
chamo a força arremetida
ao branco vitral do sal e às lágrimas coadas da tormenta
vestindo de sombra o tempo desabrido
a convidar para estar comigo.
Rompe-se o silêncio perdido na matriz do corpo
enredo de olhos secos...verdade sisuda e bêbeda
balbucia às sombras de Janeiro
incertezas sobre o nascimento nas palhas
e na fé ínvio da salvação gratuita.
Em abuso na vidraça, a manhã envergonhada
atropela o espaldar da cadeira
e o vermelho escrito no algodão do cortinado
caminha sem saída diante da solidão das letras empilhadas
na estante
vício e beleza convivem para sustentar a metamorfose da alma
empoeirada dos ossos aos olhos dos poros e às artérias
esvaziando o orgulho da vida na morte.
Para quê mentir se a verdade é irrelevante?
Respiro dentro das vias rubras canais quentes
como brasa mortiça,dilato a vibração, escuto a chuva, espreito o aceno do horizonte
aplainado ao mar e vigiado por peixes sem grilhões
Rasga-se a vida que passa à frente do olhar
traçado a cada viagem pelo meridiano da inocência
e em cumplicidade com o tempo debruço o sopro da palavra
rasgada em nenhum lugar mais real
como no redondo da casa de poemas.
Zita Viegas