Poemas : 

Entre a Cruz e a Espada-8

 
ENTRE A CRUZ E A ESPADA
VIII

Na Velha Política...
Algumas semanas se passaram. Apesar de mais velho um pouco e de guardar em si um problema cardíaco, Matheus se sentia bem. Estava feliz! Acordava cedo todos os dias e, na hora em que o filho descia para ir à escola, ele também ganhava a rua. Dava longos passeios às margens do Guaíba e contracenava com a natureza o espocar das horas. Às vezes cansava um pouco, então buscava um lugar para sentar e respirar o ar da manhã. Enquanto repunha suas energias, seu pensamento viajava quilômetros, milhas... atravessava as fronteiras metafísicas, tentava entender as coisas astrais. Evidentemente era Fernando Cintra o motivo de suas reflexões. Como pode o amor vencer as barreiras da morte? Como pode o amor vencer ao tempo e transformar-se num sentimento inquebrantável e lúcido, presente, embora a morte o tenha carregado para o infinito dos infinitos? Simplesmente não compreendia... Assim permanecia seu amor por Fernando Cintra, agora resplandecente plenamente em Lucas...Fisicamente o sentimento havia se metamorfoseado, mas era o mesmo, até mais forte, e estava mais vivo do que nunca em seu âmago... ardia feito brasa!
Sentiu-se descansado e retornou para casa. Tomou um banho e pôs uma roupa leve, ligou o som e se iniciou a escutar música erudita. Nestes momentos era como se desprendesse do corpo e ganhasse as alturas do espaço. Sentia-se leve, flutuava no pensamento e beijava o éter
com o carinho dos seus desejos. De repente, foi bruscamente interrompido em seus devaneios pelo tilintar do telefone que tocou seguidas vezes. Pensando tratar-se de alguma coisa relacionada a Lucas, brecou o êxtase e atendeu a chamada.
- Sim, pois não, quem é?
- Sou eu Mat, Johnny Campbell.
- Olá – disse em inglês – que surpresa, meu amigo. Como está?
- Estou muito bem, e você?
-Levando a vida...
- Estou ligando para você vir levar a vida por aqui e ao redor do mundo...
- Como assim? – Quis saber Matheus.
- Não tem acompanhado os noticiários? – Indagou Johnny.
- Confesso que muito pouco. Ando meio desatualizado das coisas. Mas, o que houve?
- Acabo de ser eleito Presidente dos Estados Unidos... Quero-o aqui, ao meu lado.
- Meus parabéns! – disse Matheus – Para quê quer um velho ao seu lado?
- Deixe de ser cretino, Mat... Você só tem 51 anos, está muito novo ainda e, um homem como você, não pode parar.
- Estou aposentado devido à minha saúde, bem sabe disto...
- Claro que sei, porém você pode submeter-se a uma série de exames e ver qual o papel que pode assumir em meu Governo.
- Faz tempo que deixei a política, Johnny, estou plenamente desatualizado das coisas recentes.
- Isto é apenas um fato e é tolice. Nós o colocaremos a par de tudo em poucos dias. Ninguém melhor do que você para ser meu Secretário de Estado...
- Você está bem dos miolos? – Inquiriu Matheus – este é um cargo de supra confiança e de alguém que seja jovem...
- Deixe de ser tolo! Por mais doente que possa estar, mesmo assim, é o mais competente político que conheci até hoje, portanto, trate de arrumar as malas e desembarcar por aqui o quanto antes – exigiu Johnny.
- Posso ter sido competente um dia, hoje não o sou mais. Não perturbe minha tranquilidade.
- Não aceito recusas, Mat. Em meu programa de governo você cai como uma luva. Espero-o por aqui o quanto antes. Passar bem!
Nem deu tempo para que Matheus argumentasse mais nada. Céus! Aquela ligação o tirara de suas reflexões e lhe trazia uma série de apreensões. Por outro lado, Johnny Campbell havia sido seu melhor amigo enquanto esteve nos Estados Unidos, não podia virar as costas para ele. Absorto nestas reflexões, não percebera que Lucas acabara de chegar e trazia almoço para dois.
- Oi, pai, não está com fome?
Despertou, então, de mais um êxtase.
- Acabo de receber um telefonema dos Estados Unidos. Johnny Campbell.
E tudo relatou a Lucas. Queria ouvir a opinião dele.
- Grande responsabilidade este homem quer colocar em suas mãos – disse Lucas – você ainda se sente disposto a encarar tamanho compromisso?
- Para ser sincero, sim, mas não gostaria. Tenho você e minha tranquilidade para viver bem – respondeu Matheus.
- Se você se sente capaz, aceite o desafio – aconselhou Lucas – certamente levar-me-á junto, não?
- Lógico! Jamais o deixaria sozinho.
- Além do mais, pai, lá eu poderia entrar numa universidade sem ter que me submeter ao estresse de um vestibular.
- Está bem – disse Matheus – vou topar o desafio... O que não faço por você?
Preparou tudo para a viagem e seguiu de retorno aos Estados Unidos ao lado de Lucas. O apartamento ficaria fechado, um dia voltaria e seguiria até o final dos seus dias.
Ao chegarem na América do Norte, hospedaram-se num hotel e Matheus buscou contato com os filhos. Dois estavam viajando em negócios no exterior, dois foram visitá-lo no hotel e conheceram Lucas. Mil perguntas fizeram sobre Lucas e se acomodaram quando tomaram conhecimento de que Matheus o adotara.
Alguns dias depois, Matheus já estava enquadrado no esquema político de Johnny Campbell e em janeiro assumiria a Secretaria de Estado do Governo. Seu nome fora muito bem recebido em todo o país, na verdade gozava de intenso prestígio. Fizera os exames e os médicos diagnosticaram que ele estava muito bem e pronto para assumir o cargo. Por influência do Governo, Lucas conseguira matricular-se em uma universidade e já estava a estudar Medicina, seu grande sonho profissional. Estavam, ambos, intensamente felizes!
Ano Novo, vida nova! Foi desta forma que Matheus encarou suas novas responsabilidades. Passou a habitar uma luxuosa casa de propriedade federal, ao lado de Lucas. Os dois pouco se viam, pois, Matheus viajava muito e, como sempre fora, isso o aborrecia profundamente.
Os anos se passaram num abrir e fechar de olhos. Matheus conseguiu realizar extraordinário trabalho a serviço do governo americano. Em muitas ocasiões, deixava-se levar por suas inspirações próprias e, assim, conseguira apaziguar várias revoltas e guerras ao redor do mundo. Tão intenso e brilhante se houve em seu desempenho, que foi agraciado com o Nobel da Paz, no último ano de Governo.
Estavam em plena campanha pela reeleição, porém Matheus estava decidido a parar por aí, já dera sua contribuição à Nação Americana. Apesar do excelente Governo, Campbell não foi reeleito e este fato fez com que Matheus resolvesse pelo seu retorno a Porto Alegre. Contava
56 anos e, agora, queria parar de vez. O candidato vencedor nas eleições teve a petulância de contatá-lo para que seguisse no cargo, entretanto elegantemente ele desviou-se do convite, alegando seu problema de saúde. Apenas aguardaria que Lucas concluísse o curso a fim de volver à capital do Rio Grande do Sul. Passaram-se mais três anos e, finalmente, Lucas diplomou-se e conseguiu junto à Embaixada do Brasil, o reconhecimento de seu diploma de médico. Voltaram a Porto Alegre e lá tiveram grandes surpresas. Matheus e Lucas foram recebidos com honras militares e dois convites esperavam por eles: Lucas fora convidado a integrar a equipe médica do Hospital de Base de Brasília, com um contrato especial dentro de sua especialidade, cirurgia geral, Matheus recebera o convite da Presidência da República para ocupar o Ministério das Relações Exteriores. Grande número de jornalistas estavam em seus encalços e, eles, para terem direito à paz, deram entrevistas coletivas.
- É uma honra para mim assumir este ministério, todavia tenho de pensar primeiro em mim. Não ando bem de saúde e, devido a este problema, recusei continuar no posto de Secretário de Estado dos Estados Unidos. Por enquanto não posso dar uma resposta definitiva, pensarei carinhosamente sobre o assunto – disse Matheus Cintra.
- O convite que recebi para assumir o Hospital de Base de Brasília está em aberto. Só irei residir na Capital Federal se meu pai aceitar o convite feito a ele, pois, deixá-lo só, nem pensar... É uma questão de não saber ficar distante dele e não deixá-lo sozinho na idade em que se encontra. É tudo! – Colocou Lucas.
Finalmente conseguiram chegar em casa. Dias antes, Matheus telefonara para o síndico e pedira para que usassem as chaves reservas e preparassem o apartamento para ele. Fora prontamente atendido, aí incluindo uma grande faxina e o abastecimento de sua geladeira. Tudo fora providenciado.
Chegaram, tomaram o banho de sempre e se alimentaram. Arrumaram suas bagagens e, na varanda do apartamento, iniciou-se um diálogo.
- Você vai aceitar o convite do governo brasileiro, pai?
- Não sei, penso em você. – disse Matheus – você necessita de iniciar-se em suas atividades médicas e eu não medirei esforços para vê-lo vencer como tenho vencido até hoje. Amo-o!
- Em primeiro lugar de tudo está você. – colocou Lucas – depois é que se pensa em mim. Amo-o também e você sabe o quanto...
-Quando o amor está escrito nas estrelas, tudo se resolve e se entende... Vamos descansar, meu filho. A viagem foi longa e teremos bastante tempo para resolvermos estas pendengas.
- Concordo com você – disse Lucas.
FIM DO CAPÍTULO VIII
AMANHÃ O CAPÍTULO IX - EPÍLOGO DESTE ROMANCE.

 
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imelo10
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