A parte que me toca da noite, hoje, sob o clarão da lua,
Preguiçosa Noite, ficou prostrada sem fazer nada,
Aliás, encostou em meu ombro e dormiu – folgada!
Eu senti todo seu sono! E não havia como acordá-la!
A Noite que me coube esta noite estava muito cansada!
Mas, a Noite de outros lugares, a Noite lá da rua, sua orvalho:
Suor proveniente de seu trabalho! Quanta função tem a Noite:
Serve de aconchegante manto, com o qual Criador cobre seus filhos,
Propiciando-lhes um bom sono; pano de fundo onde Deus projeta
O espetáculo de um céu de luar e de estrelas,...
Os sonâmbulos, os noctívagos, os que sofrem de insônia – como eu,
Usamos a Noite para vagar, para pensar, para namorar, fazer poesia,...
Os maus usam o manto escuro da Noite para todo tipo de maldade,
Esquecem que as madrugadas, por Deus, são veladas na Paz do silêncio!
Quanto segredos guarda a Noite envoltos em seu negro manto!
Casos de amor ora alegre ora triste ora trágico! Realidade e sonho!
Quantas guerras tramadas e executadas à Noite; quantas traições;...
A Noite que me fez companhia esta noite foi muito pesada, cansada:
Dormiu sob mim! E os ponteiros dos relógios, intocáveis – sem presa,
Cantavam uma silenciosa música que para a Noite é cantiga de ninar!
Lá no poleiro, o relógio do galo despertou
E a Natureza vai acordando de mansinho no Mundo inteiro!
A Noite em meu ombro espreguiça, pressente os raios de sol...
Eu vou contando mais uma noite de insônia... produtiva insônia:
Enquanto a Noite dormia em meu ombro, fiz este estranho poema!
Tenho uma relação de confiança com a Noite:
Somos amigos de longas conversas, quando cada um conta seu dilema.
Manoel De almeida