Existe,
Muito longe daqui,
Uma ponte dardejada por implacáveis moluscos,
Escurecida em ferrugem voraz,
Que une dois mundos distantes,
Duas eras distintas...
Resiste ao tempo que apodrece,
Em algas de odor esperançoso, marinho...
Que se embate em esqueleto vacilante,
Fustigando, incansavelmente, frágil relação.
Balança ao sabor do vento,
Em alerta despudorado
Aos que lhe acreditam eterna,
Aos que lhe acreditam sem destino.
O ranger de sua estrutura
Empedernida por séculos de dúvida,
Liberta pescadores adormecidos,
Mendigos desiludidos,
Duendes escondidos.
Sacode, docemente, seu corpo.
Em meio à tempestade,
Que se diria insuportável,
Como a espantar maus presságios.
Ponte que o vento e o mar escavaram,
Esculpiram, em pungente paixão,
Sem nome, sem idade.
Hoje obra que o presente suporta,
Que o futuro não inveja.