ENTRE E CRUZ E A ESPADA
III
Adeus à Inocência...
Um ano completou que Fernando Cintra morava em Porto Alegre. O relacionamento com Matheus cada vez mais grudento, isso porque o garoto estava, a cada dia, mais apegado ao pai. Fernando era tudo para ele: o orvalho da manhã, o sol que bronzeia a pele, a chuva que alimenta os prados, o canto dos pássaros, a lua dos enamorados, as flores da primavera. Nada fazia sem que Fernando estivesse em primeiro plano, tudo girava em derredor de Fernando Cintra. Por sua vez, Fernando tinha certeza de que ganhara de Deus um tesouro. Tesouro que ele relutaria em ter de dividir um dia com alguém. Não admitia sequer pensar nessa hipótese, todavia, sabia, em seu íntimo, que Matheus cresceria,
amadureceria, namoraria, casaria, teria filhos... ah! Este pensamento o atormentava dia e noite. Era como retroceder ao passado, no tempo em que vivia solitário. Temia a solidão, não desejava mais tal experiência para si mesmo. Houve uma mudança em seu horário de trabalho, passou a trabalhar em um só expediente, o da tarde. Teria, agora, momentos livres e isto significava mais tempo ao lado de Matheus, no momento com 15 anos. Trabalhava das 12 às 19 horas, de segunda à sexta-feira. Os finais de semana eram deles e eles aproveitavam para viajar.
Conheceram Canela, Gramado, Canoas, São Borja e outras cidades gaúchas.
Numa sexta-feira, ao chegar em casa, trouxe uma novidade para Matheus.
- Vamos conhecer Buenos Aires? – Disse.
- Nós dois?
- Claro, filho. Entrei, a partir de hoje, em gozo de férias. Temos 30 dias para viajar e curtir a natureza. E o melhor de tudo, é que você também entra de férias da escola...
- Verdade! Hoje foi o último dia, agora só em agosto.
- E as notas, como estão?
- Você sabe que não gosto de estudar, mas para não decepcioná-lo, não
há recuperação. Passei em todas.
- Ótimo! Segunda-feira sairemos cedo e faremos duas coisas: compraremos as passagens e providenciaremos os passaportes.
Neste final de semana não saíram, ficaram dentro do apartamento onde dialogaram, brincaram e assistiram a filmes pela tv fechada. Na segunda, bem cedo, estavam na rua, providenciando os detalhes da jornada. Compraram as passagens e conseguiram os passaportes. Viajariam quarta-feira, à tarde.
A viagem fora ótima e ficaram hospedados em um hotel no centro de Buenos Aires. Passeavam, fotografavam, curtiam em detalhes a cidade. Travaram conhecimento com um casal de brasileiros e dois filhos, do Rio de Janeiro. Os dois filhos do referido casal eram Wilson e Raquel. Wilson tinha a idade de Matheus e Raquel, 17. Ambos ficaram tomados de amores por Matheus que, inocentemente, não os percebeu além de uma simples amizade. Em um domingo foram todos passear pelos campos nos arredores da cidade e Raquel teve uma oportunidade única.
- Você é lindo, sabia? – Disse.
- Eu? Você enxerga bem? – Matheus perguntou.
- Lógico. Se estou dizendo que você é lindo, é porque realmente é lindo. Quero um beijo!
Ingenuamente Matheus a beijou no rosto.
- Não é no rosto... quero um beijo na boca! – Exigiu a moça.
- Ah, - disse Matheus – Isso é coisa de pessoas casadas, nós somos solteiros....
- Que desgraça é esta que está a dizer? Quer me dizer que nunca beijou uma garota na boca? – Raquel indignou-se.
- Não, nunca beijei e não vai ser agora que farei isto...
Mas Raquel não se conteve e desejava um beijo de Matheus, nem que fosse roubado. E o agarrou pela cintura e tentou beijá-lo a força...
Neste instante Wilson se aproximava e observou a cena. Matheus a empurrou e ela caiu sentada no chão.
- Grosso! – disse – Você parece que não é homem...
- Chega! – interveio Wilson – você foi longe demais, Raquel.
- Como? Você não viu que ele me empurrou? – Tentou defender-se a moça.
- Assisti a todo o espetáculo – afirmou Wilson – você tentou beijá-lo a força, ele não queria...
- Dois idiotas – Raquel disse – E dali se afastou.
- Peço desculpas por minha irmã, ela é assim mesmo, quando cisma com uma coisa...
- Deixa para lá – Matheus desculpou – vamos sair daqui.
- Não! – pediu Wilson – fiquemos mais um pouco.
E ambos se deitaram na relva e ficaram a dialogar.
- Você não tem namorada? – Wilson quis saber.
- Não, não tenho. Por quê?
- Porque é inadmissível um garoto bonito como você é ficar sozinho...
- Quem disse que estou sozinho?
- Você acabou de dizer-me que não tem namorada...
- Pelo fato de eu não ter namorada, isto não significa que esteja só. Vivo com meu pai!
-Ou você não entende o que a gente fala ou faz de conta que não entende...
- Realmente eu não entendo. – disse Matheus – o que você quer dizer?
- Não sou de floreios e vou direto ao assunto: estou afim de você... você dá uma chance a mim?
Matheus assustou-se e se levantou. Entendera, finalmente, o que Wilson queria.
- Você está louco? Somos dois homens...
- Os homens também fazem amor. – disse Wilson.
- Podem até fazer, porém eu não faço amor com outro homem, desculpe...
- Seu pai não orienta você para a vida?
- Orienta sim e muito bem. Por isto mesmo que não faço amor com outro homem. Se você não tem outro assunto para conversar, vou-me daqui. Até logo!
- Espere! – pediu Wilson – Deixe-me, ao menos, vê-lo nuzinho...
- Que barbaridade! – até logo!
Matheus saiu apressadamente dali, contudo Wilson estava em seu encalço, lá na frente o alcançou.
- Ei, Matheus, tudo isto é normal, seja compreensivo...
- Nada tenho para ser compreensivo, deixe-me em paz.
- Enquanto o tiver por perto não vou desistir, você é lindo demais e meu libido fica assanhado.
Por sorte, naquele instante, Fernando chegava em companhia do casal, pais dos jovens.
- Que foi, Matheus? Por que está tão agitado?- Fernando perguntou.
- Já ficamos o suficiente em Buenos Aires, vamos embora daqui. – Matheus pediu.
Percebendo que Matheus não estava bem, Fernando solicitou licença ao casal e voltou para o hotel. No quarto, Matheus desabou em seu ombro e deixou as lágrimas rolarem.
- Diga-me o que está ocorrendo, filho – Fernando pediu.
E Matheus, mesmo chorando, tudo relatou.
- Eles se apaixonaram por você, foi isso, todavia, se você não os quer, não há quem possa obrigá-lo.
- Evidente que não os quero – confessou Matheus – não vivo a pensar nessas coisas.
- Sabe, Matheus – falou Fernando – precisamos de ter uma conversa sobre esses assuntos.
- Com você até converso, com eles não.
Como Fernando notou que Matheus ainda estava bastante agitado, deu-lhe um comprimido calmante e o levou para tomar banho. Durante o banho, tentou explicar-lhe algumas coisas, Matheus recebeu bem as palavras de Fernando.
- Você já tem 15 anos, necessita de saber dessas coisas, filho.
- Está bem... Que mais tenho de saber?
- Não esconda nada de mim, preciso mais do que nunca de sua sinceridade a fim de que possa ajudá-lo em algumas coisas.
- Jamais deixarei de ser sincero com você, jamais!
- Então me diga: você já se masturbou alguma vez em sua vida?
- Não, nunca. Sempre me disseram que isso é pecado.
- Pecado coisa nenhuma. Isso é mais do que normal em garotos de sua idade. Se nunca se masturbou, então nem sabe se já possui esperma, o que certamente já, mas está entocado.
- Não, não sei. Como faço para saber?
E Fernando lhe disse o que deveria fazer e ele na mesma hora fez a experiência.
- Em minha frente, não fica envergonhado?
- De nada tenho vergonha de você.
Consumou-se. Sujou-se intensamente e foi necessário molhar-se e ensaboar-se outra vez.
- Viu como tem bastante esperma?
- Vi e estou espantado – Matheus disse.
- Duas coisas: Nem é para ficar espantado e nem é para, antes do tempo, colocar esperma dentro de uma garota, pois, assim sendo, você a engravida.
- Isso eu já sabia, só. Somente não sabia que tinha tanto esperma.
- É gostoso, não é?
- Muito gostoso, uma sensação agradabilíssima...
- Não faça isto todos os dias, porque enfraquece e, quando em exagero, emagrece e enche você de espinhas.
Terminaram o banho e retornaram para o quarto, onde se vestiram.
- Ainda quer ir embora de Buenos Aires? – Fernando perguntou.
- Se aqueles dois continuarem a dar em cima de mim, iremos para outro lugar, combinado?
- Combinado. Agora vamos descer para a janta.
Fernando e Matheus não viram mais os cariocas. Após o jantar, foram dar uma volta pela cidade onde comeram pipoca e beberam refrigerantes. Por volta das 22 horas estavam de retorno. Tomaram outro banho e se deitaram para dormir.
Antes de conciliarem o sono, ainda trocaram algumas palavras.
- Matheus, você estará cursando o 3º. Médio no próximo ano, vai fazer vestibular. Já pensou no que quer para o futuro?
- Ainda não. Sobre isso, muito temos sobre o que dialogar. Vou precisar muito de sua orientação.
Fecharam os olhos e... adormeceram!
FIM DO CAPÍTULO III