Do Jardim daCasa Monsaraz na Rua Vítor Cordon no Chiado.
E a noite vai caindo devagar,
paira calma uma Paz religiosa,
serena, doce, imutável …
A Lua desce brandamente,
esquálida,receosa, solitária, prateada,
branca como a neve…
Reflecte o seu penar
nas águas puras que vagueiam
clandestinas para o mar ...
Ao longe, a Ponte corta mágoas!
Que o Cristo, em Oração, de braços abertos,
avança, caminhando sobre as águas.
OTejo está calado, singelo, receptivo,
silencioso, adormecido, diáfano,
ocultonas margens de Lisboa,
como pássaros sem voz
qu’inda voam pelos Céus,
erráticos, à toa …
Ai, Lisboa …Lisboa …
Teu sangue a palpitar
na caliça branca do luar,
agita as altas franças,
que o Tejo canta, docemente,
sem nunca repousar …
Sua Musa, doce e branca,
que procura ao Luar,
também quer Amar, Amar,
dizFlorbela Espanca …
Ó Lisboa,canta …
Canta Poetisa! Canta!...
Que há pouco a tarde fria,
por entre os Astros,
no Céu, descia,
envolvendo de tristeza,
comseu Fado de solidão,
a graça e a pureza,
que o Tejo em si alteia,
sem esperanças de perdão…
Ó Tejo, que mistérios são os teus
debaixo deste Céu?!
Quis Deus que tua Voz
fosseSilêncio, brancura, solidão…
Perdão Lisboa! Perdão!
Que o Tejo solitário,
dolente, imaginário,
jamais revela o Coração…
Ó Lisboa, triste o teu condão,
perdão Lisboa! Perdão! …
Ricardo Louro
no Chiado
Ricardo Maria Louro