Não me peçam para calar esta ânsia de gritar palavras
Peçam-me para as gritar…e eu gritarei!
Libertarei toda a dor que o peito consente.
Não vos impeçam de as ouvir, de sentir e chorar.
Gritem! Gritem, também a vossa angústia,
Não finjam que não a têm, todos a temos.
Ah! Pouco me importa o que sentes, quando o sentes,
Grita! Se sufocas nessa angústia que aos poucos te mata.
Eu grito! Quanto mais não seja e se mo pedires a tua dor.
Não tens sossego, nem tempo para o fazer?
Desengana-te do tempo, o tempo é o teu tempo,
Quanto ao sossego, procura-o e encontrarás.
Chorar, também é uma forma de gritar, é um grito da alma,
Lágrimas que escorrem é dor que sara no peito.
Não consegues gritar, esqueceste-te do som que se faz?
Um, dois, três (grito), agora a tua vez, um, dois, três…
Lembraste agora? Ah! Que bem que sabe, gritar!
E agora?…Agora deitemo-nos serenamente no silêncio
Ouvimos a desgarrada das mãos que percorrem a alma
Ouvimos Mozart, Wagner, Chopin e sorrimos, talvez!
Não! Não me impeçam de gritar palavras descabidas
O Ser humano é um improviso, por isso também o é a vida.
Sim, nem sempre eu grito, por vezes choro, por vezes rio,
Por vezes sou simplesmente apática ou adormecida.
Vá, agora de alma aliviada desfrutemos da melodia,
Das paisagens amenas, dos oceanos conquistados,
Dos rios de águas calmas onde se banha a alma.
Se ainda quiseres chegar mais além, porém sorrindo,
Veste as asas ocultas que guardas no armário dos sonhos
Põe-te a voar na descoberta de outros sons e perfumes,
Sê livre, a liberdade não se compra, sonha-se e vive-se,
Tão simples como o grito em ti oculto, vivo mas oculto.
Poema inserido no livro de poesia e prosa "Grito Oculto", da Chiado Editora.