SILÊNCIO DA SERRANIA
Na noite, um triste pio,
lembra só melancólica canção,
e lembra, que está vazio,
de ilusões, meu coração.
Da janela, olhando fico,
por companhia, a lamparina,
como está bonito o pico,
coberto pela neblina.
Nenhuma estrela no céu,
um sertão sem claridade,
a serração, como um véu,
não traz nenhuma saudade.
Sem de ninguém lembrar,
sou livre da corrente,
recordações, só do mar,
e não cresce essa semente.
Só tenho amor pelo campo,
e o vale que me acolheu,
só gosto do pirilampo,
que hoje não apareceu.
O silêncio da serrania,
nesse monótono grotão,
viram rimas de poesia,
são notas do violão.
Não sou o único vivente,
aqui não vivo sozinho,
ouço o silvo da serpente,
e o canto do passarinho.
Essa quieta noite escura,
não me traz recordação,
o vento que murmura,
só enfeita a escuridão.
Logo a noite morre,
vem os pássaros cantores,
o orvalho que escorre,
tem perfume das flores.
O sino do campanário,
não me lembra passados,
sou homem sem calendário,
até no dia dos namorados.
Na floresta dos pinheirais,
continuo morando aqui,
já nem me lembro mais,
do lugar em que nascí.
Tristeza, não é meu tema,
mas gosto da solidão,
é silencioso meu poema,
sou eremita, poeta do sertão.
GIL DE OLIVE