Na terra árida, assolada pela longa estiagem,
caminhei durante dias. Varei muitas estradas à procura
de um gotejo d'água que pudesse desanuviar minha mente,
refrescar os sedentos lábios, regar o estômago aflingente.
Acreditei ser possível, quando olhos já marejados pela incerteza
da penitente seca caíram descrentes sobre o baixio ressequido,
perplexos diante do sulco visceral encravado na terra.
Arrasta-se o tempo neste motejo lugar, cenário dantesco,
sarça e graveto fumegantes que arranham o ar cravando unhas no ceú na busca salvadora
e apelativa do milagre chuvoso que possa cair. Água rojante e desabadoura
só na memória calcinada, reminiscência psicológica de tempos invernosos, meu Deus. Mas a pestilência da estiagem corroi o sobejo de crença, a fé no Pai parece ser, é, réstia devoradora de desilusões ante o avassalador estio. Decerto acreditar é preciso até o último filete de fé, pois a esperança agonizante retumba e renova-se com o gotejar das primeiras águas do inverno no beirado da casa...
Jadson Simões