Devaneio
Há no sussurro do vento
Um sopro que me conduz,
Faz de guia ao pensamento,
Força que à senda conduz.
Em haustos sorvo a salsugem,
Que dá mais força aos meus passos,
Caminho junto à babugem,
Marco na areia meus traços.
Quero ver na maresia
Para acalmar minhas mágoas,
Imagem de fantasia
Vogando ao lume das águas.
Foi no sonho prometido,
Em dia de maré cheia,
Que em corpo bem cingido
Surgiria uma sereia.
Desde a orla litoral
À linha do horizonte
Fixo o espaço imaterial,
Espero a ninfa remonte.
Espero a todo o instante,
No vaivém vivo das ondas,
Mas só se mantém constante
O vaivém das minhas rondas.
Já nas águas reverbera
Toda a luz do sol poente,
É tanto o tempo de espera
Que se enruga minha fronte.
A vida tem seus enganos
Que frustram do sonho o anseio,
Tem o mar os seus arcanos
Pábulos do devaneio.
Juvenal Nunes
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