A poesia, esta musa da liberdade de expressão,
Ora posa nua, com seu corpo de Vênus:
Sem se importar se tem alguém a vendo;
Ora com seu corpo de Apolo:
Mostrando a todos seu belo colo;
Ora desfila com seu traje de gala:
Só a vê quem tem “olhos de vê-la”!
Seu alfaiate, exímio estilista,
Ora cose sua veste com os mais belos retalhos
À disposição na língua: figuras, vocabulários,... ;
Ora cose-lhe veste simplesinha,
Deixando ‘ainda mais bela:
Inocente qual menininha!
Ora a musa dos sentimentos e das emoções
Está muito triste com a humana dor: por mil razões,
Pede, então, ao poeta, seu alfaiate,
Que cosa sua veste com palavras fortes,
E o poeta, que também é seu consorte,
Sente-lhe as dores ainda mais forte,
Cose-lhe a veste com versos tristes:
Tecido negro para dia de má sorte!
Mas o poeta tem os seus limites,
Para não sofrer sempre a dor da bela musa,
Borda em sua veste o eu-lírico e o usa!
O poeta em ritmo acelerado,
Sem métrica costura versos alternados,
Com palavras feias de sentimentos pesados:
Rima azarado com desgraçado, inverno com inferno,...
Sem temer superstição ou algum deus titã:
Importa que a musa poesia esteja salva e sã!
Manoel De almeida