Feche os olhos.
Imagine um dia de sol, de céu azul.
Uma brisa leve e o cheiro das flores
quiçá dos amores
espalhados como pólen ao vento,
brotando em cada coração fértil.
Crianças correndo livres
nada de professores e alunos
só aprendizes.
Imagine que tudo fosse compartilhado
desde a ínfima porção de terra
até o bem mais avaliado.
Que não houvesse tanta distância
entre o sentir e o realizar,
que a única exploração fosse do tempo
e que o choro fosse apenas de saudade.
Não haveria esperança
e sim a certeza da mudança e da continuidade,
que toda herança deixada fosse conhecimento
nada de temer a morte malfadada
pois viveria-se cada momento
com a certeza da eternidade
pequena, frágil e doce nascendo ao teu lado.
Imagine que as pessoas tivessem olhos e vissem
que tivessem ouvidos e ouvissem.
Agora abra os teus olhos.
Vê o sol e o céu azul?
eu vejo!
eles me dizem que hoje é o dia.
Vê as sementes? eu as vejo
negras, loiras e morenas
tão pequenas e tão grandes.
Vê a esperança?
eu a vejo
pois ainda não há mudança.
Há trabalho
pontes a construir
não podemos partir
sem antes plantar a semente
sem transformar a poesia em utopia
e a utopia em herança
Veja! Que surpresa!
algo brota ao meu lado.