Heroico
I
Andar na rua, no vento
Sustentar o sorriso é vida,
No heroico viver há solidão
Da vida e da canção...
Sem rimas vou poetar a vida,
Sem métrica, somente há palavras...
Recordarei meu início nesse verso,
Para atinar meu fim no papel,
Começarei no final, sim no final!
Para então fenecer no começo...
II
Não mo importa a dor,
Simplesmente ela é sentido!
E o sentido nada mais é...
Inexpugnável! Portanto nulo!
O sofrer também é mar...
Que vai e vem e volta a regressar...
Só sofre quem sofre deveras!
Isso é tão elementar de perceber...
Mas, o que é o sofrer então?
Será brisa? Será sol? Ou solidão?
III
Não sei bem monologar...
Cogito sempre em mim calado!
Mas, uma voz em mim não cala,
É a minha velha consciência!
Quero calá-la, mas é vão...
Tento acalmá-la, mas é não!
Para! Cala-te! Deixe-me em paz...
Não to quero ouvir!
No entanto tudo é vão...
Deito-me ao chão de mim morto!
IV
Morri! Morri sim...
Morri de mim mesmo...
Ah! Finalmente, silêncio, paz!
Foi-se a dor do sono...
E o amargor platônico de mim...
Meu fim! Meu começo...
No paraíso estou a cantar!
Sorrio feito uma criança em Lisboa,
Na inocência de um indígena brasileiro...
Vivo esse meu ígneo Português!
V
Escuto então um barulho,
Acorda homem! Levanta-te!
Não! Estou vivo outra vez...
Começa então tudo de novo!
Ah, minha consciência mo mata!
E também mo ressuscita no repente...
Abro os olhos...
Tudo é luz!
Onde estou? Diga-me homem, onde estou?
Será que na Portugal de meus pais? Avós...
VI
Vejo vultos e ouço rumores,
Mas, perdido estou!
Que século é esse?
Que gente é essa?
Quem sou eu? O que cá faço?
Estou a desatinar homem!
Ou sou eu mero devaneio...
Quiçá um paradoxo,
Que a vida tende a obliterar...
Ser ou não ser, minha questão!
VII
Agora é tarde Ferreira!
Agora é tarde meu caro...
Estás tu acordado!
Ou estás do outro lado?
Quiçá, nada há de ser mudado...
Tudo é igual, é relativo!
Não chores mancebo... Acorda!
Sejas heroico!
Sejas tu Português!
Não estás a perceber tudo?
VIII
Perceber? O que?...
Não sei nem quem sou!
Quiçá seja eu vítima...
Vítima de minha inquisição!
Ou quiçá um proscrito,
Vivendo em outra nação,
Longe de casa e de meus parentes...
Longe de minha bela Portugal!...
Amo-te então Portugal...
Amo-te no panegírico princesa...
IX
Vivo nessa América distante,
Longe de minha amada,
Minha heroica pátria...
Minha heroica Portugal!
Sou um poeta em exílio...
Meu único idílio és tu!...
Minha quirida morada,
Minha heroica!
Minha poesia verde e vermelha,
Dedico-te tão fugaz verso!...
X
Incógnitas da vida,
Não vivo em Portugal!
Tornei mo Brasileiro?
Sim talvez!
Não! Continuo Português!
Seja no corpo como n’alma...
Porém sou também,
Brasileiro...
Divido em partes meu amor,
Esse meu amor de Português!...
XI
Sou nascido em setembro,
Setembro verde...
No século vinte...
Mas, minha alma,
É novecentista, romanesca!
Retrogrado sei que sou,
Poeta perdido no tempo,
Que ler Pessoa, ler Camões...
Que vive a tocar violão,
Que ama escrever e...
XII
...Escreve por amar...
Meu poema é heráldico,
Minha vida, no entanto...
É... Simplória...
Busco encontrar-me então...
Mas, mo encontro no vácuo!...
Cala-te, somente um momento!
É minha vetusta consciência!
Ela não para de mo inquirir,
Quem és tu então?...
Leandro Yossef
XVII/VII/MMXIV