Quem te disse? Quem te disse
Que no meu rosto as lágrimas são água,
Que no meu rosto as rugas são velhice,
Que no meu rosto os olhos se apagam?
Quem te disse? Quem te disse?
Beija-me as faces do tempo, agora!
Sente-lhes os acasos do vento …
Sente como te salgam os lábios,
É mar, é mar certamente…
É saudade de maré triste e contente.
Não esgotam, mas não, é certo que não,
Não mas peças, não tas dou, nem dispenso,
Se as queres no teu rosto…sente…acredita!
Acredita na alma que por hora, não alimentas.
Viaja para lá dos olhos, dos meus, dos teus,
Ah! Estes olhos que tão bem mentem,
E só na mentira poderás dizer que se apagam,
Que a luz que transcende não é arco-íris
E que a sua íris não é deusa da esperança.
Trespassa os meus olhos, trespassa-os!
Se desse feito o teu sonho for capaz…
Pois os meus olhos são terra, água, fogo e ar.
Podes dizer que os meus olhos são castanhos,
A cor da terra, ventre de todas as flores,
vaso de todas as águas e núcleo de todas as chamas.
Podes dizer que os meus olhos são verdes,
Uma primavera a florescer, reflexo de todos os campos,
Esperança e renascimento de uma pele caída, cansada.
Podes dizer que os meus olhos são azuis,
Infinitos de um poema, reflexos de um céu e de um mar.
Não me bastará! Nos meus olhos…eu… tenho sonho,
Quimeras, ilusão, devaneio, visão de um louco,
Tenho a imagem da brisa que afaga a relva molhada,
O cheiro da terra prenhe, saciando as suas vontades,
Alimentando os seus filhos, sacudindo o pó do tempo.
No meus olhos eu tenho o voo das minhas asas,
rasgando os limites da pele, transpirando o azul infinito.
Tenho, também, nos meus olhos, o silêncio da boca,
Aquele que tudo diz, na nudez do corpo em “carpe diem “.
Maria dos Santos Alves