Os velhos e velhinhas
a gente sem abrigo
que pede
pelas alminhas
vive
como castigo
e
dos colos carregados
das lantejoulas
dos cenhos carregados
das angústias
dos peões
da soberba pachorra
de esperar
remédio
da virtude paciência
e
há sempre
muito ruído
muito brilho
muita cor
ladrões
à paisana
e polícias
nas esquinas
prostituição
a disputar a sensualidade
que há em tudo
e
a despesa de viver
o pecado
fechar os olhos
para ignorar
a bomba
que vai explodir
e
tanto filho da mãe
que anda a fugir
sem descanso
que não suporta a luz
nem a própria sombra
tanta faca
escondida
e
deve haver
além de mulheres algures
ilícitas de tão carnais
amores imperfeitos
de tão legais
e
o livro da história
que não cessa
nem há tempo para ler
até numa biblioteca
ninguém sabe morrer.