E me fiz pedra, dura, rígida
Que nem a mole água fura.
Depois me fiz de ferro farto,
De aço regalado, sem curvatura.
Depois eu me fiz todo de tudo.
Porém de tudo eu não tinha nada
Um dia eu me fiz caminho, estrada;
Noutro eu me fiz de surdo e mudo.
Então eu me fiz de muro, de escada,
De tábua no oceano que não tem fim.
Coitadinho de mim! Me fiz madrugada
E, quando veio a alvorada, me fiz de sim.
E me fiz de não, de talvez ou de será.
Sem saber me fiz de deus e de diabo.
Logo eu que cantava mais que o sabiá!
Que nas noites de luar era o enamorado!
E caiu a chuva como uma luva em minha mão.
E molhou o solo, aguando o rio e a vegetação...
Fim da tempestade. Agora somente bonança
Eu me fiz homem. Hoje me disfarço de... Criança!
Gyl Ferrys