Nesse trecho Schopenhauer lança severas críticas às mulheres. Como já se disse a sua misoginia teve inicio na conturbada relação com a mãe e prosseguiu graças aos seus insucessos no campo amoroso. Obviamente que suas opiniões não encontram acolhida no autor, que por uma questão de honestidade literária decidiu mantê-las para não ferir a linha de raciocínio do filósofo. Assim sendo, conto com a compreensão das amáveis leitoras.
Vimos que a escravidão do Desejo e do Tédio pode ser vencida pelo indivíduo através dos êxtases proporcionados pela contemplação e degustação dos objetos artísticos e por algumas práticas religiosas.
Porém, essa libertação só ocorre individualmente, pessoa por pessoa, pois a Vida vai além do homem, quer por intermédio de sua própria descendência, quer pela descendência alheia. A Vida, isto é, a Vontade, pode ser vista como um sistema de infindáveis rios, cuja seca de um, logo é compensada pelo aparecimento de outro.
Portanto, como o gênero humano, no geral, poderia ser libertado? Haveria meios de se chegar a um “Nirvana” para a espécie?
Para Schopenhauer, sim!
Mas, para que houvesse; e para que a Vontade fosse aniquilada, seria preciso que a morte não fosse compensada por novos nascimentos. Seria imperioso que o indivíduo morto, não fosse substituído por outrem. Seria preciso, ao cabo, que a humanidade se abstivesse* do sexo e da reprodução que lhe é consequente.
Uma medida radical e impossível por culpa exclusiva da mulher, já que os seus encantos despertam instintos que superam qualquer racionalidade; e a geração das crias lhes garante o sustento para quando esses encantos findarem.
Segundo Schopenhauer, a juventude masculina não compreende como esses encantos são breves e maquiavelicamente utilizados e quanto lhes chega a maturidade e com ela a sabedoria, a reposição indevida já aconteceu. Os rapazes que escrevem poemas às suas Musas, dificilmente as olhariam se elas tivessem nascido dezoito anos antes.
Nas palavras de Schopenhauer, em sua obra “Ensaio sobre as Mulheres”:
“Com as moças, a Natureza parece ter tido em vista o que, na linguagem do teatro, é chamado de efeito de impacto; uma vez que durante alguns anos, ela as dota de uma abundância de beleza e é pródiga na distribuição de encantos, à custa de todo o resto da vida delas, para que durante aqueles anos elas possam captar a simpatia de algum homem a ponto de fazer com que ele se apresse a assumir o honrado dever de cuidar delas (...) enquanto viverem – um passo para o qual não pareceria haver uma justificativa suficiente, se ao menos a Razão dirigisse os pensamentos do homem. (...) Aqui, como em outra parte qualquer, a Natureza age com a economia usual; porque assim como a fêmea das formigas depois da fecundação perde as asas, que então são supérfluas, ou mais, um perigo para a atividade reprodutora, a mulher, depois de dar à luz um ou mais filhos, em geral perde a beleza; provavelmente, mesmo, por idênticas razões”.
A veneração à mulher não é natural, sendo, na verdade, apenas uma convenção oriunda do Cristianismo e do Romantismo. Porém, mesmo nessas origens, a veneração é obliqua, sendo que no primeiro caso o que se louva é a mulher virgem, intocada e, portanto, não geradora de outro individuo; e no segundo, louva-se o amor platônico, dissociado do sexo. Por isso, para o filósofo, estariam certos os orientais** que não reconhecem a igualdade entre os gêneros, tratando as mulheres como seres inferiores.
Dessa sorte e graças à manipulação feita pela Vontade, através da natureza, para o filósofo, seria quimérico acreditar em uma libertação da espécie humana. A condição natural do homem é a servidão. Somos apenas peças de uma engrenagem e é essa condição que modela o seu “Pessimismo Filosófico”, cujas cores sombrias foram depois adotadas e adaptadas por outras correntes, das quais, destaca-se o Existencialismo do século XX.
Na sequência, findando o capitulo sobre Schopenhauer, faremos uma breve reflexão de seu Pensamento.
Nota do Autor* – claro que ao exarar essa afirmativa Schopenhauer não considerou os métodos contraceptivos, os quais, em sua época, eram rudimentares e altamente ineficazes.
Nota do Autor** – é interessante notar que ainda hoje, em pleno século XXI, as mulheres orientais são tratadas dessa maneira, variando, contudo, a intensidade da discriminação nos diversos países da região.
Produção e divulgação de Pat Tavares, lettre, l´art et la culture, assessora de Imprensa e de RP., do Rio de Janeiro em Junho de 2014.