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A Sedutora da Chuva

 
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A Sedutora da Chuva


(Ficção. Com excepção de alguns topónimos, todos os componentes são fictícios.)


(Sempre gosto de andar na chuva
para que ninguém me veja a chorar.)
- Charles Chaplin -


A estação seca dos meses de Maio a Agosto havia passado, sem sobressaltos. Setembro abria-se agora para a estação das chuvas e para o calor, que iria até Maio do ano seguinte.

Em Luanda, o tempo de chuva é quase sempre igual e traz quase sempre as mesmas consequências: bairros alagados, ruas intransitáveis, casas derrubadas, um ou outro afogamento. Fora disso, nada de novo a quebrar a monotonia.

Este ano, porém, não seria assim. A monotonia seria quebrada. A estação das chuvas traria um elemento novo. Deixaria marcas em muitas famílias. Muitos filhos e filhas ficariam sem os pais. Algumas esposas ficariam sem os maridos. Cada chuvada traria dor e luto e sempre que chovesse pairaria no ar o macabro cheiro da morte. Mas não de morte provocada pela chuva…
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No dia 10 de Setembro, dia em que caiu, em Luanda, a primeira grande chuvada da presente estação, a AngoCrime (Agência de Investigação e Notificação de Crimes) recebeu um telefonema a informar que, dentro de uma viatura estacionada na Ilha de Luanda, fora encontrado um cadáver de um homem que aparentava ter à volta de quarenta anos de idade. Num dos bolsos da sua camisa foi encontrado um papelinho com os seguintes dizeres, em letra de imprensa: “Foi a Sedutora da Chuva”. Os exames médico-legais feitos ao cadáver indicaram que o homem (Vasco Sampaio) havia sido assassinado por estrangulamento, provavelmente com uma corda de nylon.
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O Inspector Juvenal, da AngoCrime, chamou dois investigadores da Agência ao seu gabinete:
-- Vocês os dois vão encarregar-se do caso “A Sedutora da Chuva”. Comecem com as investigações de imediato. Não podemos perder tempo pois quando um assassinato vem acompanhado de uma mensagem, como neste caso em que foi encontrado um papelinho no bolso da camisa da vítima em que estava escrito “Foi a Sedutora da Chuva”, é sinal de que outros se seguirão.
--Okay, chefe, nós vamos iniciar as investigações de imediato.
E os dois homens retiraram-se do Gabinete do Inspector Juvenal.
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Nas três semanas que se seguiram ao assassinato de Vasco Sampaio, não se verificou qualquer outro assassinato. A vida decorria normalmente e os pensamentos estavam virados para a praia, a saborosa e desejada praia que, depois dos meses frios, se apresentava, no início da época quente, aliciante e atractiva. Os dois investigadores da AngoCrime, encarregues directamente do caso “A Sedutora da Chuva”, não haviam, até ao momento, detectado qualquer indício, qualquer pista, que conduzisse à pessoa que se intitulava de “Sedutora da Chuva”.
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Um próximo acontecimento, porém, iria trazer de novo à baila o nome “Sedutora da Chuva”. E esse acontecimento estaria ligado a um homem de negócios influente em Luanda, de nome Vasco dos Anjos.

Vasco dos Anjos era um homem elegante, bem posicionado financeiramente (possuía, em Luanda, uma rede de seis pastelarias de luxo para além de ser um accionista influente em algumas empresas de grande capital). Era dono de duas vivendas de luxo, uma no Bairro Azul, onde morava com a família (esposa e 4 filhos) e outra no Bairro Miramar. Possuía ainda quatro viaturas de passeio… enfim, Vasco dos Anjos, aos 50 anos de idade, era um homem “feito”.
Gostava de se divertir. Gostava de mulheres. Sempre que tivesse uma oportunidade, adicionava uma “amiguinha casual” à já sua longa lista. Naquele dia do mês de Outubro, por volta das 16 horas, apesar de o tempo estar a anunciar chuva, Vasco dos Anjos resolveu ir dar um passeio no seu “Range Rover”. Na estrada de Catete, por onde seguia, e um pouco depois do Supermercado “Estrela”, parou para dar boleia a uma mulher que se encontrava à beira da estrada, aparentemente aflita por recear que, a qualquer momento, uma grande chuvada a apanharia desabrigada.
-- Boa tarde, senhor! Desculpe incomodá-lo, leve-me, por favor, até mais à frente onde eu
moro. Já está quase a começar a chover e eu receio…
-- Entre, entre – disse Vasco dos Anjos, abrindo a porta da viatura.
A mulher entrou rapidamente.
-- Mora muito longe? – Perguntou Vasco dos Anjos sem quase olhar para a mulher.
-- Não muito mas, enfim… também não é muito perto… e dentro de um carro destes nem tenho é vontade de chegar – disse ela acompanhando as últimas palavras com um sorriso.
Ao ouvir estas palavras, Vasco dos Anjos olhou para a mulher mais atentamente. Tinha um ar aristocrático e elegante. A voz era agradável e o aspecto, intelectual. Notava-se que era uma pessoa culta. Vasco dos Anjos, engoliu em seco. Sentiu uma onda de prazer percorrer-lhe o corpo. Já não queria mais nada. Aquela mulher teria de ser adicionada à sua lista de “namoradas casuais”, custasse o que custasse. Homem de recursos financeiros avultados, iria fazer uso do dinheiro, se fosse preciso, para passar algumas horas agradáveis com aquela mulher. Pesadas e negras nuvens carregadas de água cobriam agora todo o céu de Luanda. Os primeiros pingos de chuva estavam já a cair. O tempo estava a escurecer, apesar de ainda serem à volta de 17 horas (5 horas da tarde).
Vasco dos Anjos, respondeu, com uma pergunta:
-- Já que a senhora gostou do meu carro, posso convidá-la a dar um passeio?
-- Desculpe, Senhor, eu não sou uma mulher de rua. Penso que me interpretou mai. Sou casada e respeito o meu marido.
E, ao mesmo tempo que dizia estas palavras, a mulher ia quase imperceptivelmente, puxando a saia, devagar, para cima deixando os joelhos e parte das lindas coxas à mostra. As palavras e os gestos da mulher fizeram com que Vasco dos Anjos sentisse uma vontade ainda maior de fazer amor com ela. Não se conseguia controlar.
-- Desculpe, Senhora, -- disse ele em tom de voz baixo – não a quis ofendê-la mas gostei tanto de si que, se aceitar o meu convite, vou dar-lhe um presente que vai gostar. Por favor, só quero estar um bocadinho coinsigo, a sós.
A mulher olhou para ele por uns momentos, e disse:
-- Sabe uma coisa, senhor? Eu sei quem é o senhor e até sei como se chama.
-- Ah, conhece-me?! – retorquiu Vasco dos Anjos olhando meio admirado para a mulher.
-- Sim, conheci-o por intermédio de uma amiga. Uma ocasião estava eu com essa minha amiga na pastelaria “Bolinhos de Mel” e então você entrou na sala e foi ter com alguém que se encontrava sentado numa das mesas junto à nossa. Foi então que a minha amiga me disse que o senhor era o dono daquela pastelaria e que se chamava Vasco dos Anjos.
-- Ah, então já somos conhecidos. E como se chama a Senhora?
-- Claudete.
-- É um nome bonito. Com efeito, Dona Claudete, eu sou o dono da pastelaria “Bolinhos de Mel”, onde me conheceu e de mais cinco outras pastelarias aqui em Luanda. Tenho uma vida mais ou menos folgada do ponto de vista financeiro. Por isso é que lhe disse há bocado que se aceitar o meu convite para estarmos um bocadinho a sós, vou dar-lhe um presentinho que vai gostar.
-- Okay, você tem um local discreto para onde possamos ir?
-- Tenho, sim – respondeu rapidamente Vasco dos Anjos – um amigo meu tem um apartamento alugado num local bastante calmo. É um apartamento pequeno, de solteiro. Eu faço-lhe um telefonema, e está tudo resolvido.
-- Okay, disse a mulher. E você é discreto? Sabe guardar segredo? — perguntou ela.
-- Absolutamente, respondeu Vasco dos Anjos, pode estar totalmente descansada.
-- Okay, então vamos mas quero ser bem presenteada.
-- Não se vai arrepender – rematou Vasco dos Anjos, ao mesmo tempo que direccionava a sua viatura para o local, nas imediações da Avenida dos Combatentes, onde se localizava o apartamento. Durante o trajecto, fez um telefonema ao seu amigo pedindo-lhe que lhe dispensasse o apartamento por algumas horas.
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Já chovia a cântaros. Os limpa pára-brisas do Range Rover de Vasco dos Anjos deslizavam no vidro limpando a água que por ele escorria. Já na área de estacionamento do prédio onde se situava o apartamento do seu amigo, Vasco dos Anjos estacionou a viatura num dos lugares vagos. Olhou para a mulher, e disse:
-- Vamos.
Subiram até ao 3º andar e dirigiram-se ao apartamento nº 27. Vasco dos Anjos retirou a chave que o amigo deixara num vaso de flores conforme haviam combinado, abriu a porta e entraram.
-- Bem, aqui estamos – disse Vasco dos Anjos, olhando docemente para a mulher.
-- Sim, aqui estamos. E vamos já ao que interessa. Gostou de mim, quer fazer amor comigo… o que é que gostaria de fazer concrectamente?
-- Dona Claudete, eu gosto tanto do seu corpo, tem um corpo tão atraente, tão apetitoso, que, para lhe ser franco, o que me apetece mesmo fazer agora é um sexo oral.
-- Ah, gosta? Gosta de fazer sexo oral?
Gosto muito, Dona Claudete! O sexo oral é um dos meus maiores prazeres sexuais. Mas não faço a qualquer mulher. Só a mulheres especiais, assim acomo a senhora.
-- Okay – disse a mulher, lisonjeada – então ajoelhe-se aqui à minha frente e venha explorar este corpo de que tanto gosta. Isso, assim mesmo – disse ela colocando as duas mãos sobre a cabeça de Vasco dos Anjos, depois de ele se ter ajoelhado à sua frente. Coloque agora a sua cabeça no meio das minhas coxas – continuou ela-- … isso, assim mesmo… agora, para começar, “dê-lhe” um beijo… linguado…

Vasco dos Anjos estava cheio de desejo. Tremia de prazer. Com a cabeça no meio das coxas da mulher saboreou, com a língua, aquela pele macia e apetitosa… e “beijou-a”… num beijo linguado, saboroso, inigualável… um beijo que o transportou aos píncaros do prazer. Nesse momento o mundo para ele havia parado tão intenso era o prazer que sentia… infelizmente para ele, porém, o beijo foi de súbito interrompido e foi, para Vasco dos Anjos, o último beijo que ele deu na vida. Com efeito, sentiu, de súbito, uma corda em volta do seu pescoço a apertar… a apertar… e foi a última coisa que sentiu na vida. Tombou, inerte, sem vida, no soalho envernizado do pequeno apartamento. A mulher, depois de ter coberto a mão direita com uma luva, pegou num pequeno pedaço de papel branco que trazia escondido no soutien e onde se achava escrito, em letra de imprensa, “Foi a Sedutora da Chuva” e colocou-o no bolso da camisa de Vasco dos Anjos. Em seguida, enrolou a corda na cintura, por baixo da blusa. Lá fora, a chuva era torrencial. Ninguém na rua, nem pessoas, nem viaturas. A mulher puxou a porta do apartamento, fechou-a de novo, desceu as escadas e saiu, calma e silenciosa, para a rua… para a chuva…
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O assassinato de Vasco dos Anjos abalou Luanda inteira, não só porque Vasco dos Anjos era um empresário influente nos círculos comerciais da capital mas também pelo facto de ter sido a 2ª pessoa a ser assassinada pela mesma pessoa que se intitulava de “Sedutora da Chuva”. Com efeito, para além de ter sido encontrado o papelinho branco com os dizeres “Foi a Sedutora da Chuva”, os exames médicos efectuados ao cadáver da vítima, confirmaram que Vasco dos Anjos havia sido assassinado por estrangulamento com uma corda provavelmente de nylon, tal como acontecera no primeiro assassinato, ou seja, o de Vasco Sampaio.

Depois de terem regressado do pequeno apartamento onde se haviam deslocado para observarem o cadáver de Vasco dos Anjos, o Inspector Juvenal e os seus dois investigadores a quem havia incumbido a tarefa de darem início às investigações do caso “A Sedutora da Chuva”, estavam agora sentados no seu Gabinete. O Inspector Juvenal, com um suspiro, talvez de desalento, talvez de confirmação, fez-se ouvir:
-- Eu não vos dizia que eu pressentia que os assassinatos prosseguiriam? Eu logo que vi aquele papelinho que dizia “Foi a Sedutora da Chuva” deixado na camisa da primeira vítima, eu suspeitei logo que aquilo não iria ficar por ali. E aí têm. Mais um. E outros se seguirão, se não encontrarmos rapidamente uma pista para apanhar essa tal “Sedutora da Chuva”. Temos de andar depressa. Como vão as investigações? Algum indício já por mais insignificante que seja?
-- Nada Inspector, absolutamente nada – respondeu um dos investigadores -- a única coisa que sabemos é que, na altura dos assassinatos, chovia torrencialmente.
-- Bolas, isso de chover, até certo ponto, não é pista. Isso pode ser coincidência. – salientou o Inspector Juvenal. E acrescentou: -- Nós precisamos é de uma pista mais concreta, alguma coisa que nos permita saber por onde começarmos.
-- Isto é como procurar agulha em palheiro, Chefe – disse o outro dos investigadores, com um suspiro de desânimo – não se vê pista nenhuma em lado nenhum – concluiu ele desanimado.
-- Continuem, continuem sem esmorecer que alguma coisa se há-de descobrir—disse o Inspector Juvenal olhando directamente para os seus dois investigadores. – Falem com pessoas relacionadas com as vítimas, com os familiares, com amigos, enfim, para ver se descobrem alguma pista. Perguntem se as vítimas tinham inimigos. Precisamos de uma pista onde nos agarrarmos para podermos seguir seguros nas investigações. Caso contrário é como andarmos às apalpadelas, na escuridão.
-- Okay, Chefe – disseram quase ao mesmo tempo os dois investigadores da AngoCrime, ao mesmo tempo que saíam do Gabinete do Inspector Juvenal.

Entretanto, a AngoCrime fez sair, na Rádio e na Televisão, no dia seguinte ao do assassinato de Vasco dos Anjos, um comunicado a anunciar a morte de Vasco Sampaio e Vasco dos Anjos, as duas vítimas da “Sedutora da Chuva”. A AngoCrime pedia igualmente ao público que prestasse quaisquer informações relacionadas com o caso.

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Depois do assassinato de Vasco dos Anjos, alguns dias se seguiram sem que houvesse sinais de chuva. A “Sedutora da Chuva” porém, continuava a dominar todas as conversas.
“Quem seria e qual seria a causa dos assassinatos?” – interrogavam-se uns.
“Quem seria a próxima vítima?” – interrogavam-se outros.

Enfim, o caso começava a mexer com as emoções das pessoas. A rádio e a televisão passaram várias vezes a notícia do assassinato de Vasco dos Anjos e um novo comunicado da “AngoCrime” pedia calma ao público e continuava a solicitar a assistência de quem tivesse conhecimento de algum pormenor relacionado com os dois assassinatos.
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Entretanto, o mês de Outubro havia chegado ao fim. Por volta das 11 horas de um quente dia de Novembro, o Inspector Juvenal, da AngoCrime, ao olhar para o céu e ao ver nuvens negras de chuva a formarem-se, exclamou pesaroso:
-- Meu Deus, quem será a vítima de hoje e onde, onde será cometido o crime?!
Nuvens densas, escuras, carregadas de água, continuavam, inexoravelmente, a formar-se. Ouviam-se já alguns trovões precedidos de relâmpagos que rasgavam a imensidão dos céus. Em breve, muito em breve, estaria a chover torrencialmente em Luanda e arredores.
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Num dos quartos (o nº 234) do 9º andar de um hotel de luxo em Luanda, passava-se, naquele momento, uma cena romântica. Quem estivesse dentro do referido quarto, poderia ouvir a seguinte conversação:
-- Estes breves instantes Madalena, não deveriam terminar nunca…
-- Mas na vida tudo termina, Vasco Augusto. Até a própria vida. Tudo se esfuma, tudo desaparece. E estes breves momentos também se esfumarão e deles só ficará a recordação. Mas não pensemos agora em coisas tristes. Vamos viver estes instantes de ouro. Olhe, dispa-se e deite-se aqui ao meu lado. Assim mesmo. Agora, ponha a cabeça entre estes meus seios redondinhos e macios. Isso, assim mesmo. Está a gostar?
Vasco Augusto nem respondia, tal era a doçura que estava a sentir. Apenas abanou a cabeça em sinal afirmativo.
-- Agora – prosseguiu Madalena – agora beije-os com doçura Vasco Augusto – acaricie-os com a língua… isso, assim mesmo, ah que delícia, agora vá descendo… descendo… beije-me o umbigo Vasco Augusto… quero sentir a sua língua no meu umbigo… deixe-me acariciar-lhe a cabeça, o pescoço, ah, como é tão bom sentir a sua língua no meu umbigo… agora desça mais um pouco Vasco Augusto, desça por favor… quero a sua língua, quero senti-la…
Vasco Augusto estava completamente embriagado de prazer. Naquele momento nada, absolutamente nada, o faria parar. Começou a descer. A sua língua rolava no corpo apetitoso e quente de Madalena. Começou a descer, devagarinho, saboreando cada centímetro da viagem, de uma viagem que seria a última… estava já a meio caminho quando sentiu, de repente, uma corda em volta do seu pescoço rapidamente a apertar… a apertar… e foi a última coisa que sentiu na vida.
Lá fora já chovia torrencialmente. Fortes trovoadas acompanhadas de relâmpagos quebravam o silêncio da noite ainda criança. A mulher, que se dava pelo nome de Madalena, levantou-se da cama onde havia acabado de assassinar Vasco Augusto, enrolou a corda com que o estrangulara na cintura por baixo do vestido, colocou uma luva na mão direita, pegou num papelinho branco com os dizeres em letra de imprensa “Foi a Sedutora da Chuva” e colocou-o no bolso da camisa da sua vítima. Depois, saiu calmamente do quarto, fechou a porta, desceu para o rés-do-chão e saiu, plácida e serena, para a rua, para a chuva…
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O Inspector Juvenal da AngoCrime, ao ser informado do assassinato de Vasco Augusto, o que aconteceu no mesmo dia cerca de uma hora depois do crime, chamou os seus dois investigadores que estavam encarregues do caso a “Sedutora da Chuva” a fim de se deslocarem os três ao Hotel Prazeroso (hotel de luxo de cinco estrelas) onde havia ocorrido o assassinato. Ao chegarem ao Hotel, foram de imediato levados ao quarto no 234, no 9º andar. Entraram. Lá estava o cadáver de Vasco Augusto. Tinha apenas uma peça de vestuário (o bikini). As outras peças (camisa, calças, meias) estavam em cima de uma cómoda. À volta do seu pescoço ainda se via, bem nítida, a marca da corda que o estrangulara.
-- Vejam nos bolsos da camisa – ordenou o Inspector Juvenal aos seus investigadores.
Um deles levantou a camisa e tirou, de um dos bolsos, um papelinho branco onde se achava escrito em letra de imprensa: “Foi a Sedutora da Chuva”.

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No dia seguinte, a AngoCrime fez saír mais um comunicado na rádio e na televisão em que dava a conhecer ao público o assassinato de Vasco Augusto, a 3ª vítima da Sedutora da Chuva.
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Em Luanda, não se falava noutra coisa. Nem a praia, nem as festas, nem os fins-de-semana no Mussulo, nada, absolutamente nada, fazia esquecer a “Sedutora da Chuva”. “Quem será?! Perguntavam-se todos uns aos outros. Pistas? Até agora nenhumas, absolutamente nenhumas. As únicas pistas até agora (se é que se possa chamar pistas a isso) eram o papelinho que era deixado num dos bolsos da camisa da vítima e o facto de os assassinatos ocorrerem quando estivesse a chover. De resto, mais nada. Absolutamente mais nada.
O Inspector Juvenal, da AngoCrime, começava a sentir-se frustrado.
-- Quantos mais assassinatos ocorrerão antes que se prenda a assassina? – Interrogava-se ele, ao mesmo tempo que pegava no seu telemóvel para chamar ao seu gabinete os seus dois investigadores que estavam encarregues das investigações do caso “A Sedutora da Chuva”.
Ao chegarem, o Inspector Juvenal, disse-lhes:
-- Sentem-se, sentem-se que temos de conversar, pois temos de organizar melhor as coisas. Precisamos de uma pista, compreendem? Sem uma pista é como se estivéssemos num quarto escuro às apalpadelas sem sabermos para onde ir. Tentem encontrar uma pista o mais rapidamente possível.
-- Okay, chefe – disseram os dois investigadores em coro ao mesmo tempo que saiam do gabinete do Inspector Juvenal.

O dia decorria, entretanto, sem qualquer novidade digna de nota. Não havia sinais de chuva pois nem uma única nuvem se via no céu, um céu que apresentava uma linda cor azul celeste. E igual a este dia, decorreram os três que se seguiram. Não houve chuva e o céu, como que a querer desmentir que se estava na época das chuvas, continuava brilhante e azul, a convidar para um bom banho na praia.
No quarto dia, porém, logo pela manhã, começaram a formar-se nuvens que, a pouco e pouco, se iam acumulando por cima de Luanda. E, à medida que se iam acumulando iam-se tornando mais densas, mais escuras. O Inspector Juvenal olhou para o céu através da janela do seu Gabinete e murmurou, com um suspiro pesaroso:
-- Quem me dera saber onde irá atacar a “Sedutora da Chuva” desta vez. E quem será a vítima desta vez?! Quem?!
Estava o Inspector Juvenal absorto nestes pensamentos, quando ouviu alguém bater à porta.
Entre – disse ele.
Era um dos investigadores que, ainda da porta, disse:
-- Chefe, já olhou para o céu?
-- Já, já olhei. Daqui a vinte ou trinta minutos, começará a chover. E com a chuva, mais um assassinato ocorrerá. Quem será a vítima?
-- Vamos aguardar, Chefe! Até pode ser que nada aconteça.
-- Não queira que eu seja optimista, sem querer ser. Eu sinto que alguém vai tombar mal comece a chover.
E o Inspector Juvenal olhou novamente para o céu, bastante apreensivo. E, como ele havia previsto, vinte minutos depois uma grande chuvada caía sobre Luanda.



E os maus pressentimentos do Inspector Juvenal não tardaram a concretizar-se. Com efeito, cerca de uma hora depois de ter começado a chover, a AngoCrime recebeu uma chamada de um pescador a informar que se encontrava numa pequena embarcação de recreio, no mar, não muito afastada da costa, o cadáver de um homem, que aparentava ter 50 anos de idade.
Com a ajuda da Polícia Marítima, o Inspector Juvenal e os seus dois investigadores deslocaram-se de imediato ao local. E… lá estava o cadáver do homem. No interior do barco de recreio. Na posição de deitado. De costas. No corpo, apenas tinha as meias. As outras peças de roupa estavam no soalho do barco.
-- Vejam se há alguma coisa nos bolsos da camisa – pediu o Inspector Juvenal aos seus investigadores.
Um deles pegou na camisa do falecido. Num dos bolsos encontrou o papelinho no qual se achava escrito em letra de imprensa: “Foi a Sedutora da Chuva”.
-- Bem, disse o Inspector Juvenal, ponham o corpo aqui no nosso barco.
Os dois investigadores transportaram o cadáver para o barco da Polícia Marítima.
-- Tragam também as roupas – pediu o Inspector Juvenal aos seus investigadores. E, apontando para o pescoço do falecido, observou:
-- Olhem, a marca da corda, ainda bem visível. Isto é horrível. Quem será a próxima vítima?
E o Inspector Juvenal percorreu o olhar pelo céu para ver se via sinais de nuvens a amontoarem-se. Mas não, não havia já nuvens e o céu apresentava-se, agora, limpo e claro.


Depois da identificação do falecido e da autópsia, a AngoCrime fez saír mais um comunicado a informar o público do assassinato de Vasco Raimundo, de 38 anos de idade e a 4ªa vítima da “Sedutora da Chuva”.
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Depois do 4º assassinato da “Sedutora da Chuva”, a AngoCrime decidiu alargar o nível da investigação. Para o efeito, contactou o detective AlfaZero (um detective independente com uma folha de serviços invejável) que, de imediato, acedeu à solicitação da AngoCrime e, igualmente de imediato, deu início às suas investigações. Neste momento ele encontrava-se na Sede da AngoCrime, mais propriamente no Gabinete do Inspector Juvenal, com quem conversava sobre o assunto. Depois de ter analisado todos os papelinhos deixados pela Sedutora da Chuva, (os papelinhos com os dizeres “Foi a Sedutora da Chuva” que ela deixa no bolso da camisa das suas vítimas) e depois de ter lido todos os nomes das pessoas assassinadas, nomeadamente, 1)-Vasco Sampaio, 2)-Vasco dos Anjos 3)-Vasco Augusto e 4)-Vasco Raimundo, o detective AlfaZero comentou:
-- Já reparou, Inspector Juvenal, que o primeiro nome de todas as vítimas é Vasco?!
-- Como? O que é que disse detective AlfaZero?
-- O primeiro nome de todas as vítimas é Vasco, Inspector!
-- Oh, não me diga! Que interessante! Eu nem tinha reparado nesse pormenor. Será coincidência?
-- Se for coincidência – observou o detective AlfaZero – é uma coincidência muito estranha. Não, Inspector, não creio que seja coincidência. Penso que pessoas do sexo masculino, cujo primeiro nome é Vasco, estão a ser “caçados”, digamos assim, pela “Sedutora da Chuva”, para serem mortos. Penso ser isto o que na realidade se está a passar.
-- Oh, que há coisas do arco-da-velha! Só nos faltava esta! Isso quer dizer que quem se chama Vasco está na lista negra, detective AlfaZero?!
-- Sim, Inspector. Presumo que quem se chama Vasco está na lista negra da “Sedutora da Chuva”.
-- Sabe, detective AlfaZero – disse o Inspector Juvenal – vou fazer sair um comunicado na rádio e na televisão, a pedir a todos os cidadãos cujo primeiro nome seja “Vasco”, que se mantenham vigilantes e que não se engajem em relacionamentos amorosos com mulheres que não conheçam. Pode ser que assim se evitem mais assassinatos.
-- Óptima ideia – apoiou o detective AlfaZero – entretanto, eu vou até ao meu apartamento-escritório pensar um pouco na forma de prosseguir com a minha investigação.
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E o comunicado da AngoCrime saiu mesmo naquele dia. Todos os “Vascos” estavam agora de sobreaviso. Enfim… quem seria o próximo “Vasco” a tombar? Ou mais nenhum tombaria? Só o tempo daria a resposta…
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Chegado ao seu apartamento-escritório na Avenida Marginal, o detective AlfaZero sentou-se, fechou os olhos e pôs-se a pensar num plano que o levasse até à terrível assassina. Sete dias haviam passado desde o assassinato da 4ª vítima e, durante todos esses sete dias o tempo apresentou-se sempre limpo, sem sinais de chuva.

No 8º dia, porém, por volta das 14 horas (2 da tarde), nuvens de chuva começaram a formar-se na direcção do mar. Cerca de uma hora depois, já o céu se apresentava quase totalmente cerrado de nuvens negras e densas. Não tardaria a começar a chover.
AlfaZero olhou para o céu através da janela do seu apartamento-escritório, localizado na bela Avenida Marginal, em Luanda, e estremeceu. “Mais uma vítima tombará hoje”, pensou ele. Mais um “Vasco” desaparecerá do nosso convívio. Mas aonde? Aonde? Onde será cometido o crime?”

Choveu torrencialmente das 15h (3 da tarde) às 18 (seis da tarde). Foi uma chuvada forte mas que parou por completo, ao fim de três horas. E, por volta das 18h30m, a fatídica notícia chegou à AngoCrime. Um telefonema, de um familiar da vítima, comunicou à AngoCrime que, o Sr. Vasco Baltazar, de 72 anos de idade, proprietário de um pequeno quiosque de venda de cigarros, jornais e outras bijouterias, localizado num dos jardins públicos da cidade, havia sido encontrado morto, provavelmente vítima de assassinato, num dos quartos traseiros (que servia de pequeno armazém do quiosque).
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A morte de Vasco Baltazar, (confirmada pelos exames médicos e pela autópsia como tendo sido causada por estrangulamento, provavelmente com uma corda de nylon) deixou Luanda inteira ainda mais pesarosa, provavelmente por se tratar de uma pessoa já de certa idade. Ele foi a 5ª vítima a tombar às mãos da “Sedutora da Chuva”. Quanto aos “Vascos”, todos ou quase todos, estavam agora, mais do que nunca, “com o coração nas mãos”, como se costuma dizer, pois qualquer um deles poderia ser a próxima vítima. Mas a tentação é, não raras vezes, mais forte que a prudência… Com efeito, três semanas depois do assassinato de Vasco Baltazar, outro Vasco, desta vez um indivíduo de nome Vasco Mateus cairia, impotente, nas malhas da “Sedutora da Chuva”. Recordemos os últimos momentos de vida de Vasco Mateus.
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Sábado de manhã, Vasco Mateus, serralheiro de profissão, em Luanda, resolveu, para se distrair, ir dar um passeio à Ilha do Mussulo (recurso turístico de belas praias a cerca de 14 Km de Luanda) pois havia tido uma pequena discussão com a mulher.

Assim pensou Vasco Mateus e assim fez. Despediu-se dos filhos, (três rapazes e duas meninas) e partiu. Na Ilha do Mussulo, alugou uma suite pois estava disposto a passar ali a noite com uma senhora com quem havia feito amizade durante a viagem de barco de Luanda para o Mussulo.

Entretanto, a meio da tarde, nuvens densas começaram a amontoar-se… a amontoar-se… e iam ficando cada vez mais densas, cada vez mais negras… e, não tardou muito que uma grande chuvada caísse sobre o Mussulo, obrigando toda a gente a abandonar a praia para se abrigar. Vasco Mateus e a sua companheira entraram para a suite que ele alugara. Eram já cerca de 16 horas (quatro da tarde). Na intimidade da pequena suite, Vasco Mateus desejou mais do que nunca acariciar e amar aquela mulher. E ela atiçava-o com palavras e gestos sensuais e irresistíveis.
-- Aperte-me nestes braços fortes e viris – dizia ela com uma voz meiga – isso, assim mesmo.

Vasco Mateus lembrou-se, de súbito, do comunicado da AngoCrime que falava da “Sedutora da Chuva”. “Mas não, pensou ele, aquela mulher não podia ser a “Sedutora da Chuva”. E depois… depois ele era forte, tinha uns braços musculosos de bater o ferro… não era homem para ter medo de uma mulher… não, ele não iria parar agora aquele jogo maravilhoso com aquela mulher só porque tinha medo que ela fosse a “Sedutora da Chuva”… não, nem pensar nisso!

-- Ah, como me sinto tão bem, encostada a este peito másculo e peludo – murmurava ela em voz baixa e rouca. -- Tire a camisa Vasco e ponha-me nas suas costas como se eu fosse uma bébé…

Vasco Mateus nem falava, tal era o prazer intenso que estava a sentir. Tirou a camisa, baixou-se um pouco e a mulher subiu para as suas costas…

-- Ah, é tão bom – disse ela com uma voz repleta de sensualidade – levante-se, Vasco, segure-me nas pernas e ande um pouco comigo nas suas costas, como se fosse meu cavalinho de estimação… isso, assim mesmo, ah, que delícia….

Vasco Mateus estava absorto de tudo, envolto numa atmosfera de intenso prazer. As suas mãos estavam por baixo das pernas da mulher e a mulher tinha as mãos em volta do seu pescoço. A posição, para ela, era ideal. Tirou rapidamente a corda que estava enrolada na sua cintura e, com uma velocidade vertiginosa enrolou-a no pescoço de Vasco Mateus puxando-a com força e com a velocidade do relâmpago.

Vasco Mateus tombou, pesadamente, sem vida, no soalho envernizado da pequena suite. A mulher tornou a enrolar a corda na cintura, colocou uma luva na mão direita, tirou um papelinho do interior do soutien onde estava escrito “Foi a Sedutora da Chuva” e colocou-o no bolso da camisa do morto. Em seguida, abriu a porta, saiu e fechou de novo a porta. Chovia ainda com bastante intensidade. Um barqueiro gritava lá fora abrigado num guarda-chuva:

-- O meu barco tem toldo. Quem quiser ir agora para Luanda pode subir no meu barco que não apanha chuva durante toda a viagem.

A mulher não quis ouvir mais nada. Correu para o barco que o barqueiro indicava e sentou-se calmamente num dos bancos. Passados dez minutos o barco já estava repleto de gente e já partia rumo a Luanda.
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O assassinato de Vasco Mateus, a 6ª vítima da “Sedutora da Chuva”, foi comunicado à AngoCrime cerca de 2 horas depois de ter ocorrido. Logo que tomou conhecimento, o Inspector Juvenal acompanhado do detective AlfaZero e dos seus dois investigadores, deslocaram-se à Ilha do Mussulo e já estavam em presença do corpo da vítima.
- Olhe a marca da corda no pescoço – disse o Inspector Juvenal virando-se para o detective AlfaZero e apontando para o pescoço do morto. E virando-se para um dos investigadores, disse:
-- Veja se o papelinho dela está na camisa.
O investigador meteu a mão num dos bolsos da camisa e lá encontrou o papelinho com a frase “Foi a Sedutora da Chuva”, escrita em letra de imprensa.
-- Vou dar uma olhadela a toda esta suite, para ver se detecto alguma coisa que possa constituir uma pista que possamos seguir – disse o detective AlfaZero começando a andar e a olhar para todos os lados. Vistoriou o quarto todo, passou para um outro compartimento ao lado que servia de sala, foi ao quarto de banho, foi à pequena cozinha e… nada!
-- Absolutamente nada suspeito – disse ele desalentado quando chegou junto dos outros – ela não deixa pistas.
-- Bem, disse o Inspector Juvenal, só nos resta remover o corpo e levá-lo para Luanda, para os habituais exames.
E assim foi feito. O resultado dos exames médico-legais foi idêntico ao dos casos anteriores. Morte por estrangulamento com uma corda, provavelmente, de nylon.
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Ao chegarem a Luanda, o detective AlfaZero disse ao Inspector Juvenal que queria falar com ele em particular, pelo que os dois homens estavam agora sentados no Gabinete do Inspector Juvenal, na Sede da AngoCrime.

-- Inspector – começou o detective AlfaZero – Seis “Vascos” já se foram. E, até agora, não temos a mínima pista em que nos possamos apoiar para “caçar” a “Sedutora da Chuva”. Andamos às apalpadelas no escuro. Não sabemos para onde nos havemos de virar. Ela não deixa pistas (para além do papelinho “Foi a “Sedutora da Chuva”, que, afinal, não nos diz nada) ela não deixa pistas, Inspector Juvenal. Ninguém a vê a entrar ou a sair dos locais onde ela comete os assassinatos. Ninguém tem a mínima ideia de quem seja essa pessoa. As pessoas que foram contactadas (familiares, amigos e conhecidos das vítimas) não têm a mínima informação que seja, para nos fornecer. Neste momento estamos no ponto zero no que se refere às investigações. E já se foram seis vítimas, Inspector Juvenal!
-- Sim, detective AlfaZero, seis “Vascos” deixaram já o mundo dos vivos… quantos mais nos deixarão?!
-- Inspector Juvenal, eu tenho um plano que nos poderá ajudar a “caçar” a “Sedutora da Chuva” e tenciono pô-lo em prática a partir de amanhã. Gostaria de ouvir a sua opinião sobre o mesmo.
-- Pois com certeza, detective AlfaZero.
-- Olhe, Inspector, tenciono fazer o seguinte: colocar um anúncio em dois ou três jornais dos mais lidos aqui em Luanda, do seguinte teor:

Octogenário Precisa de Empregada Doméstica
“Vasco Serafim, octogenário (86 anos de idade), sem família para cuidar de si, precisa de uma senhora para serviços domésticos. Bom salário e outras regalias.
As interessadas deverão dirigir-se à Rua x, Prédio y para serem entrevistadas.”

-- E o que espera desse anúncio, detective AlfaZero? – perguntou, curioso, o Inspector Juvenal.
-- Bem, o que vou fazer é o seguinte: vou disfarçar-me de um octogenário de cerca de 86 anos de idade. Enfim, vou transformar-me o mais que puder num ancião e vou “residir” no endereço que for especificado no anúncio.
-- E espera que a “Sedutora da Chuva” responda ao anúncio, atraída pelo nome “Vasco Serafim”?
-- Bem, Inspector, a coisa vai funcionar assim: eu tenho a certeza que pelo menos 5 ou 6 candidatas vão responder ao anúncio. E penso que entre elas estará a “Sedutora da Chuva”, pois ela não quererá perder a oportunidade de liquidar mais um “Vasco”.
-- Mas e como é que você depois vai saber qual delas é a “Sedutora da Chuva” para você a admitir ao serviço e então depois detê-la?
-- Olhe, Inspector, será assim: conforme as candidatas forem aparecendo, eu vou anotando os nomes e os nºs de telefone delas, compreende? Depois disso, vou chamá-las, uma por uma. Quando der a primeira chuvada depois de ela ter começado a trabalhar, o teste será feito. Quer dizer, se durante a chuva não acontecer nada de anormal, quer dizer que ela não é a “Sedutora da Chuva”. Então, no dia seguinte arranjo uma desculpa e despeço-a, compreende? Depois disso, chamo então a segunda da lista e procedo da mesma forma até que eu descubra qual delas é a “Sedutora da Chuva”. Está a entender?
--Sim, estou a ver agora um pouco mais claro – disse o Inspector Juvenal ainda não totalmente convencido. – Então o teste vai ser feito quando chover? --- Perguntou ele.
-- Com certeza, Inspector, porque quando chover, se for a “Sedutora da Chuva” que estiver ao serviço, ela vai tentar matar-me. Pode ter a certeza disso. Ela odeia todos os “Vascos” e eu não vou ser excepção. Se ela estiver no apartamento, na altura em que comece a chover, ela vai ficar agitada e vai tentar matar-me. E, nessa altura, eu vou usar de toda a minha destreza para a imobilizar.
-- É um plano genial detective AlfaZero, não há dúvida mas… só funcionará se a “Sedutora da Chuva” responder ao anúncio.
-- Claro, Inspector, mas eu estou plenamente convencidíssimo que ela vai responder. E sabe porquê? Porque ela ao ler o nome “Vasco” no anúncio vai sentir o sangue a fervilhar-lhe de ódio, vai sentir uma sede irresistível de estrangular alguém que praticamente já está quase morto e antes que morra de morte natural, sem que seja ela a estrangulá-lo… percebe? Ela não suportará a ideia de saber que o octogenário Vasco Serafim faleceu sem ter sido ela a matá-lo tendo tido a oportunidade para o fazer, compreende Inspector?
-- Compreendo, detective AlfaZero. Agora compreendo perfeitamente o seu plano.
-- Penso que ela vai mesmo responder ao anúncio e penso também e estou quase certo disso, que ela vai colocar uma máscara (dessas máscaras muito finas de plástico transparente e maleável e aderente) na face para que não seja reconhecida. Aliás, eu acho até que ela já tem usado uma máscara desse tipo para não ser reconhecida por ninguém.
-- Bem, estou esclarecido, detective AlfaZero – disse o Inspector Juvenal agora absolutamente convencido de que o plano de AlfaZero poderia, de facto, resultar. – Dou-lhe o meu total apoio, detective AlfaZero. Ponha o plano em marcha. Penso que ela vai cair na rede.
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O detective AlfaZero telefonou à sua amiga Briana, tendo-lhe pedido que colocasse o anúncio “Octogenário Precisa de Empregada Doméstica” nos principais jornais da cidade., bem como na rádio e na televisão.

No dia seguinte, o anúncio saiu conforme solicitado e AlfaZero estava já a “residir” no apartamento especificado no anúncio. AlfaZero estava totalmente modificado. Era, agora, um verdadeiro ancião. Longas barbas brancas e cabelo igualmente todo branco, curvado, de andar arrastado com a ajuda de uma bengala e vestido de pijama. Tinha aspecto de doente e passava a maior parte do tempo deitado na cama ou sentado numa cadeira de rodas junto à porta.

A primeira candidata apareceu a meio da manhã. AlfaZero estava sentado na sua cadeira de rodas junto à entrada.

-- Bom-dia, avôzinho – cumprimentou ela, dirigindo-se a AlfaZero.
-- Bom-dia – respondeu AlfaZero numa voz sumida – deseja alguma coisa, Senhora?
-- Sim, avô, eu venho responder ao anúncio do jornal.
-- Ah, sim, olhe sente-se aqui nesta cadeira ao pé de mim. Pronto, já está sentada, agora diga-me o seu nome para eu apontar aqui no meu bloco.
-- Mariana.
-- Ma-ri-a-na – disse pausadamente AlfaZero, ao mesmo tempo que anotava, com a mão trémula, o nome no bloco de apontamentos.
-- E também preciso de anotar o seu número de telefone. Olhe, aponte mesmo a Senhora que eu já nem quase consigo escrever.
Mariana anotou o seu número de telefone.
-- Pronto, Dona Mariana, a Senhora é a primeira candidata, então pode começar já a trabalhar.
E a Dona Mariana deu, então, início às suas tarefas.

Entretanto, no decorrer do dia, apareceram mais seis candidatas:

-- A Dona Catarina; -- A Dona Florinda; -- A Dona Olga; -- A Dona Luisa; -- A Dona Justina; e a Dona Manuela.

Todas forram entrevistadas tendo o detective AlfaZero anotado os seus números de telefone para o caso de as querer chamar.

O primeiro dia de trabalho da Dona Mariana correu normalmente, tendo ela feito todo o seu trabalho de forma apropriada. Mas o que AlfaZero queria, mesmo, era uma boa chuvada para a testar e ficar a saber se era ela ou não a “Sedutora da Chuva”. E isso aconteceu no seu sexto dia de trabalho. Com efeito, aquilo que AlfaZero esperava há tanto tempo, ou seja, uma boa chuvada, aconteceu. Por volta das 15h30m, uma chuva intensa começou a cair sobre Luanda. Mariana, que estava na cozinha, veio até ao quarto de AlfaZero e disse:
-- Puxa, avô, lá fora está escuro. Nem sei como é que hoje hei-de ir para casa com esta chuva toda.
-- Está a chover muito?
-- Está, avô. Muito mesmo.
AlfaZero observava com atenção todos os gestos e movimentos de Mariana. Não – pensou ele – não deverá ser esta a “Sedutora da Chuva”. Ela está demasiado calma e a chuva parece não a afectar absolutamente em nada.

Entretanto, a chuva cessou. Foi bastante forte mas não durou muito tempo. O tempo havia clareado e já se via um sol brando a brilhar. Tendo constatado que Mariana não era a “Sedutora da Chuva”, AlfaZero chamou-a, deu-lhe uma desculpa aceitável e despediu-a do serviço.
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Depois de Mariana ter saido, AlfaZero telefonou para a segunda candidata da lista e que era a Catarina.
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Logo que terminou a sua chamada para Catarina, AlfaZero recebeu uma chamada do Inspector Juvenal da AngoCrime, que lhe disse:
-- Mais uma vítima, detective AlfaZero. Mais um “Vasco” tombou, durante a última chuvada.
-- Oh, Inspector, não me diga!
-- É verdade. Recebemos a informação há cerca de 30 minutos. A vítima, um tal Vasco Mariano, foi encontrado morto num anexo de uma residência de um tio dele. Tinha 58 anos, era viúvo e tinha dois filhos e uma filha já todos adultos. Ao que tudo indica (marca da corda no pescoço e o papelinho no bolso da camisa) o homem foi assassinado pela “Sedutora da Chuva”, na altura em que chovia.
-- Oh, que chatice – desabafou o detective AlfaZero – essa mulher está a fazer-nos a vida negra.
-- Se está, detective AlfaZero – desabafou, por sua vez, o Inspector Juvenal com um suspiro de desalento. E logo a seguir, perguntou: -- E como vão as coisas aí no apartamento?
-- Olhe, a primeira candidata já a despedi pois constatei durante a chuvada que ela não era a “Sedutora da Chuva”. A segunda da lista vai começar a trabalhar amanhã de manhã.
-- Oxalá o seu plano resulte, detective AlfaZero, caso contrário essa maldita vai acabar com todos os “Vascos”.
E os dois homens terminaram a conversação telefónica.
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A Catarina começou a trabalhar no dia seguinte ao da entrevista. E tudo o que AlfaZero disse à primeira trabalhadora, ou seja, à Mariana, disse-o igualmente à Catarina. E, tudo o que se passou com a Mariana, passou-se igualmente com a Catarina. Com efeito, no 12º dia de trabalho de Catarina, uma grande chuvada torrencial voltou a cair sobre Luanda. E, enquanto chovia, a Catarina portou-se normalmente pelo que AlfaZero despediu-a, nos mesmos moldes, em que despediu a Mariana.
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E, no mesmo dia, ligou para a 3ª candidata da lista, a Dona Florinda, tendo esta começado a trabalhar no dia seguinte logo pela manhã.
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Entretanto, durante a chuva que caiu no 12º dia de trabalho de Catarina (a 2ª candidata da lista admitida por AlfaZero), mais um “Vasco” tombou às mãos da “Sedutora da Chuva”. Desta vez, a vítima foi um jovem de 22 anos de idade, de nome Vasco Paulo, estudante do Curso Médio de Electricidade. Foi a 8ª vítima. O jovem foi encontrado morto numa pequena cabana abandonada na estrada Luanda-Huambo, a cerca de 10 km de Luanda. A sua motorizada foi encontrada junto à cabana.Supõe-se que ele levava de boleia a “Sedutora da Chuva” e que, ao começar a chover, pararam na referida cabana a fim de se abrigarem da chuva. Foi então aí mesmo que a “Sedutora da Chuva” assassinou o jovem. A marca da corda lá estava em volta do pescoço do jovem e o papelinho da “Sedutora da Chuva” também lá estava num dos bolsos da sua camisa. “Foi a Sedutora da Chuva”, dizia o papelinho.

O Inspector Juvenal informou o detective AlfaZero de mais este assassinato e concluiu com o seguinte desabafo de desalento:

-- Já não sei o que fazer nem para onde me virar, detective AlfaZero. Os meus investigadores não conseguiram, até agora, “apanhar” qualquer pista. Estou desorientado.
-- Inspector, não se deixe sucumbir pelo desânimo. Alguma pista, mais cedo ou mais tarde, surgirá.
E os dois homens da lei, desligaram os telefones.
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A Dona Florinda, a 3ª candidata da lista ia, entretanto, desenvolvendo as suas tarefas sem grandes dificuldades… ia já no 5º dia de trabalho e tudo corria sem sobressaltos… só faltava agora a chuva para que AlfaZero a testasse e ficasse a saber se era ela a tristemente famosa “Sedutora da Chuva”. Mas entretanto a chuva não chegava e o tempo apresentava-se sempre limpo e solorento….
E assim os dias iam passando e a Florinda ia já no seu 15º dia de trabalho. O detective AlfaZero continuava impaciente pois queria testar a Florinda o mais depressa possível. Quanto mais depressa, melhor, pois ainda faltavam quatro candidatas: (a Dona Olga, a Dona Luisa, a Dona Justina e a Dona Manuela).
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E, entretanto, o dia do grande teste havia chegado. Com efeito, no 22º dia de trabalho da Florinda, por volta das 15 horas (3 da tarde) repentinamente o céu escureceu coberto de nuvens densas carregadas de água pronta a cair sobre a cidade. E não tardou nada, começou a chover. Uma chuvada forte mas ainda sem trovoadas. Apenas se ouvia o barulho característico da água a cair. Através da janela envidraçada do seu quarto, AlfaZero via perfeitamente os grossos pingos de água a cairem.

A Florinda saiu da cozinha e veio ao quarto de AlfaZero. Foi até à janela, voltou para a porta, foi à varanda, voltou para a janela… enfim, andava de um lado para o outro, parava no meio do quarto, tornava a movimentar-se… AlfaZero notou que ela estava impaciente, nervosa, agitada … e disse para si próprio: “Olá, não me digam que é esta a “Sedutora da Chuva!”

E perguntou-lhe, numa voz sumida de ancião doente:
-- Sente alguma coisa, Florinda?
-- A chuva, avô! A chuva é uma melodia que traz recordações tristes… -- disse ela aproximando-se de AlfaZero com movimentos lentos e compassados. E, depois de se sentar na cama onde AlfaZero estava deitado, colocou uma das mãos no rosto de AlfaZero, acariciou-o e disse, com voz meiga:
-- Sinto, avô, sinto vontade de ser acariciada! O avôzinho, apesar da idade, não sente, nem que seja só de vez em quando, vontade de fazer sexo?
AlfaZero estremeceu. Seria a Florinda a “Sedutora da Chuva”?
-- Oh Florinda, eu já estou tão idoso, já nem penso nisso – respondeu AlfaZero na sua habitual voz sumida.
-- Olhe, avôzinho, só estamos aqui nós os dois. Eu vou dar-lhe algum prazer, o avôzinho vai gostar… olhe aqui, avôzinho, dê um beijinho aqui na minha coxa… isso, assim… está a gostar, avôzinho?
Lá fora, a chuva continuava a cair com força.
-- Não tenha vergonha de mim, eu sei que o avôzinho gosta, a vida é mesmo assim… é para se viver…
AlfaZero estava preparado para actuar rapidamente e imobilizar a Florinda caso fosse ela a “Sedutora da Chuva”.
-- Avôzinho, dê agora um beijinho aqui no meu umbigo, está bem? Isso, assim… disse a Florinda, segurando com as duas mãos a cabeça de AlfaZero.
-- Ah, está tão bom avôzinho! Continue, avôzinho, não páre agora…
Alfa Zero sentiu, nesta altura, que uma das mãos de Florinda saiu da cabeça dele e entrou num dos bolsos das calças dela (ela vestia calças). Quando a mão saiu do bolso das calças trazia uma corda de nylon… tudo aconteceu tão rapidamente que AlfaZero, antes de qualquer reacção, sentia já a corda em volta do seu pescoço a começar a apertar…

AlfaZero saltou da cama com a agilidade de um tigre e com um certeiro golpe de karaté desprendeu as mãos de Florinda da corda que estava a estrangulá-lo.

A surpresa de “Florinda” foi tão grande que lhe faltaram as forças para reagir ao ataque de “AlfaZero”. Ela olhava para AlfaZero como se estivesse a assistir a um milagre ou a ver um fantasma. Estava boquiaberta, perplexa, estonteada, amedrontada até. Não queria acreditar naquilo que os seus olhos viam. Não, aquilo deveria ser um milagre. Um calafrio percorreu-lhe a espinha. Tentou sair do apartamento, fugir dali. AlfaZero, porém, facilmente imobilizou- a colocando-lhe os braços nas costas e algemando-a.

Em seguida, AlfaZero tirou a longa barba e o cabelo com que se havia disfarçado e trocou o pijama pelas suas roupas normais. A “Florinda” continuava de boca aberta a olhar para ele. AlfaZero, entretanto, aproximou-se dela e retirou a fina máscara de plástico transparente que lhe cobria o rosto. Sem a máscara, a “Florinda” apresentava agora o rosto de outra mulher. AlfaZero contemplou-a demoradamente, pela primeira vez. Era linda! Mas linda, mesmo!Tinha uns lábios carnudos, sensuais. Os olhos eram negros, de onde fulgurava um olhar meigo e sedutor, mas de onde transparecia, igualmente, um reflexo de tristeza. O corpo era simetricamente bem desenhado e, mesmo na posição de sentada, notava-se o realce das suas ancas tentadoras. No peito, notava-se a protuberância dos seus seios apetitosos. As mãos eram bonitas, de dedos longos. Tinha um ar aristocrático e elegante. Notava-se que era uma pessoa culta.

Ela perguntou, com uma voz e uma pose de pessoa culta e intelectual, que AlfaZero não havia notado quando a “Florinda” era sua empregada:
-- Quem é o Senhor?!
-- Sou alguém que anda à procura da “Sedutora da Chuva” há bastante tempo.
A “Florinda” olhou para ele, depois olhou para a corda de nylon com que estava para estrangular AlfaZero, tornou a olhar para ele e, com um sorriso triste, disse:
-- E encontrou-a. Aqui está ela. O que quer de mim?
-- Eu sou detective, “Florinda” e, por conseguinte, tenho de entregá-la à Justiça para que pague pelos crimes que cometeu. Esta corda – prosseguiu AlfaZero apontando para a corda de nylon que estava no soalho – estrangulou oito pessoas inocentes. Eu seria a 9ª vítima. Não lhe pergunto agora o que é que a levou a praticar todos esses crimes. Eu olho para si, “Florinda”, e não a vejo com cara de assassina, nem com aspecto de assassina… sinceramente que estou boquiaberto. Onde está o papelinho que iria colocar num dos bolsos da minha camisa depois de me matar?
-- Está aqui neste bolso – disse ela indicando, com um gesto de cabeça, um dos bolsos das suas calças – pode tirá-lo.
AlfaZero meteu a mão no bolso que ela indicava e de lá retirou o papelinho onde se achava escrito, “Foi a Sedutora da Chuva”.

AlfaZero pegou no seu telemóvel e ligou para o Inspector Juvenal:
-- Alô Inspector. Tenho aqui alguém comigo que, tenho a certeza, gostará de conhecer.
-- Não me diga, detective AlfaZero, não me diga que é a…
--É precisamente isso, Inspector – interrompeu AlfaZero -- a “Sedutora da Chuva” está aqui comigo, sentada, a conversar.
-- Detective AlfaZero, não brinque com coisas sérias. Olhe que eu ando com os nervos à flor da pele. Já não estou a aguentar isto. Essa mulher está a dar-me cabo dos nervos. Se isto continua assim ainda apanho para aqui um ataque de coração e olha, vou desta para a melhor.
-- Mas é verdade, Inspector. É verdade o que lhe digo. Venha até aqui e verá.
-- Okay, detective AlfaZero. Se diz que é verdade… vou já imediatamente para aí.
O Inspector Juvenal ardia em curiosidade de ver, de perto, a “Sedutora da Chuva”. Queria conhecê-la pessoalmente. Logo que desligou o telefone ao terminar a conversa com AlfaZero, fechou o Gabinete e “correu” para a sua viatura. Ao chegar à viatura, viu que se tinha esquecido das chaves no Gabinete.
-- “Bolas, as chaves do carro ficaram no Gabinete” – disse ele para si próprio.
Voltou ao Gabinete a passo acelerado, pegou nas chaves e voltou para a viatura. Um dos seus investigadores ao vê-lo naquela correria, perguntou:
-- Chefe quem foi a vítima desta chuvada? Alguém importante? O Chefe está agitado… nós desta vez não vamos?
-- Não, não vão, esperem aqui até eu voltar.
E, sem dizer mais nada, meteu-se na sua viatura e, a toda a velocidade, partiu ao encontro de AlfaZero.

-- Isto cheira-me a esturro – disse um dos investigadores dirigindo-se ao outro investigador – ele estava agitado e nunca foi buscar uma vítima sem nos chamar. Acho que a vítima desta vez deve ser algum ”peixe graúdo”.
-- Também acho – disse o outro investigador -- quem será?
-- Vamos aguardar para ver. Daqui há pouco eles devem estar aí.
Entretanto, o Inspector Juvenal estava já no prédio de apartamentos onde se encontrava AlfaZero. Subiu as escadas duas a duas e, em poucos minutos, estava já no apartamento. A porta estava entreaberta. Empurrou-a e… lá estava ela. Sentada, algemada ainda. O detective AlfaZero virou-se para o Inspector Juvenal e disse, apontando para a “Florinda”:
-- Inspector, apresento-lhe a “Sedutora da Chuva”.
O Inspector Juvenal olhou para ela e jurou para si mesmo, em silêncio, que nunca tinha visto uma mulher tão bela e sedutora e de porte tão elegante e aristocrático.
-- Como é possível!!! – murmurou ele quase sem querer acreditar.
Nada nela revelava a imagem de uma assassina. A fisionomia serena, os olhos doces, as mãos bonitas…

-- A famosa corda – disse o detective AlfaZero apontando para a corda de nylon, de cerca de 1 metro, que estava no soalho. – E o papelinho que estava reservado para o bolso da minha camisa – disse, ainda, AlfaZero, mostrando o papelinho ao ”Inspector Juvenal”. Este leu em voz alta o que nele estava escrito: “Foi a Sedutora da Chuva”. E, logo ao terminar de ler, tornou a olhar para a mulher. Ela estava impávida e serena, imóvel e silenciosa.
-- Bem, detective AlfaZero, -- disse o Inspector Juvenal – penso que o que temos de fazer agora é levá-la para a Agência.
-- Sim, Inspector, penso que sim. O trabalho aqui terminou.
AlfaZero enrolou a corda e meteu-a na sacola onde estava a sua roupa e os seus objectos e, em seguida, tirou as algemas dos pulsos da mulher e meteu-as igualmente na sacola.
-- Vamos então andando – disse AlfaZero.
Desceram os três as escadas do prédio. A “Sedutora da Chuva” seguia entre os dois homens. Algumas outras pessoas subiam ou desciam as escadas. Lá fora, a chuva já havia abrandado.
-- Já parou de chover e o tempo está outra vez limpo – observou o Inspector Juvenal.
Entraram os três para a viatura do Inspector Juvenal e, sem perderem mais tempo, seguiram para a Sede da AngoCrime.
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O Inspector Juvenal e o detective AlfaZero acharam que seria conveniente apresentar a “Sedutora da Chuva” ao público através da televisão. Mas antes disso, seria conveniente que a ela fosse examinada por uma equipa médica.

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O Dr. Gabriel Dilamo, psicólogo de grande mérito, o Dr. Estêvão Simão, psiquiatra de reconhecida capacidade, e o Dr. Feliciano Silvério, médico de clínica geral com longos anos de experiência, foram os profissionais seleccionados para, nas horas seguintes, consultarem, examinarem e entrevistarem a “Sedutora da Chuva”. Os três foram de imediato contactados e igualmente de imediato deram início ao seu trabalho. Ao fim de três horas, o trabalho estava concluído. Foi então convocada a imprensa para apresentação dos resultados e da “Sedutora da Chuva”, ao público.

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Numa das salas da AngoCrime, especialmente preparada para o efeito, estavam já a televisão, a rádio, os principais jornais da capital e representantes de órgãos de imprensa estrangeiros. Encontravam-se igualmente na sala familiares e amigos das vítimas dos assassinatos e muitas outras pessoas interessadas no caso. Enfim, a sala estava repleta.
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A primeira pessoa a dirigir-se aos presentes foi o Inspector Juvenal, da AngoCrime, que tinha, sentada ao seu lado, a “Sedutora da Chuva”. Todos os olhos estavam postos nele e na “Sedutora da Chuva” quando, em frente aos microfones da rádio e dos jornais e perante as câmaras da televisão, iniciou a sua breve apresentação:

“Estimado público em geral, estimado público luandense, em particular. Tenho o grande privilégio de vos anunciar hoje, aqui, que a “Sedutora da Chuva” foi finalmente detida. Ela aqui está, ao meu lado.

Seguidamente, a equipa médica que consultou, examinou e entrevistou a “Sedutora da Chuva”, e que é constituída pelo Dr. Gabriel Dilamo, psicólogo, pelo Dr. Estêvão Simão, psiquiatra e pelo Dr. Feliciano Silvério, médico de clínica geral, vai apresentar, ao público, o seu relatório médico. Muito obrigado.”
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O Inspector Juvenal levantou-se e o Dr. Gabriel Dilamo, psicólogo, ocupou o seu lugar para tomar a palavra em nome da equipa médica. Com voz pausada, o Dr. psicólogo Gabriel Dilamo, iniciou a sua intervenção:

“Minhas Senhoras e meus Senhores:
Em nome da equipa médica constituída por mim próprio, pelo Dr. Estêvão Simão e pelo Dr. Feliciano Silvério, tenho a informar que, depois de termos consultado e examinado a “Sedutora da Chuva” (aqui sentada a meu lado) durante três horas e de termos conversado amplamente com ela, chegamos às seguintes conclusões:

ESTADO MENTAL E FÍSICO
A “Sedutora da Chuva” não apresenta quaisquer sintomas que indiquem qualquer perturbação mental, psicológica ou física, pelo que a declaramos como estando em perfeito domínio de todas as suas faculdades mentais, físicas e intelectuais.

BREVE BIOGRAFIA
O nome verdadeiro da “Sedutora da Chuva” é Filomena Mariana Salomar. Ela tem 32 anos de idade e é formada em Engenharia de Petróleos pela Universidade de Nova York, Estados Unidos da América. É igualmente formada em Engenharia Informática, pela prestigiada Universidade Americana. Fala fluentemente Português, Inglês, Francês, Espanhol e Alemão e fez um curso de halterofilismo com especialização em força braçal. É solteira e não tem filhos.

INFÂNCIA EM LUANDA ATÉ AOS 15 ANOS
Filomena Mariana Salomar (a Sedutora da Chuva) é natural de Luanda, capital de Angola, e nesta cidade viveu, com os pais, uma infância descuidada e feliz, até aos 15 anos.

VIOLAÇÃO SEXUAL E SAÍDA DE LUANDA PARA NOVA YORK (EUA)
Aos catorze anos, Filomena Mariana Salomar (a Sedutora da Chuva) foi sexualmente violada por um adulto que ela conhecia, na própria casa onde residia, num determinado dia em que se encontrava sozinha em casa, acontecimento esse que a traumatizou profundamente. Para tentar apagar esse trauma da memória da menina, os pais mandaram-na para Nova York, onde passou a viver em casa de um tio, residente naquela cidade.

Depois de ter refrescado a garganta com um pouco de água fresca, o Dr. Gabriel Dilamo, prosseguiu, sentindo sobre si os olhares ansiosos de todos os presentes:

ADOLESCÊNCIA, IDADE ADULTA, TRATAMENTOS E ESTUDOS EM NOVA YORK
A menina adaptou-se bem ao estilo de vida americano. Gostou de Nova York, cidade cosmopolita por excelência. Estudou, estudou muito, aprendeu línguas, praticou desportos, cultivou o corpo adquirindo, especialmente, uma tremenda força nos braços, leu bastante tornando-se uma pessoa fabulosamente culta. Ao mesmo tempo, consultou vários psicólogos de renome que a ajudaram a esquecer os traumas de que fora vítima em resultado da terrificante violação sexual de que fora alvo em Luanda. E assim a vida ia decorrendo em Nova York. E, assim, a menina ia-se tornando mulher. As saudades da Pátria começaram, porém, a falar mais alto. E, um desejo enorme de voltar para Luanda, começou a martelar-lhe a alma. Queria voltar, ver de novo as ruas por onde passara, ver, enfim, a sua cidade natal, a sua querida Luanda. Enfim, ela queria viver em Luanda, arranjar um bom emprego, alugar um apartamento ou comprar uma casa e… quem sabe? Talvez casar… A recordação da sua violação sexual já só aparecia agora muito raramente e ela quase já nem dava importância ao facto.

REGRESSO A LUANDA
Filomena Mariana Salomar (a Sedutora da Chuva) regressa, então, a Luanda. Decorria o mês de Agosto. Tinha ela, nessa altura, 32 anos de idade e vinha cheia de belos sonhos para o seu futuro. Matou saudades. Reviveu lugares. Encontrou-se com antigas companheiras das brincadeiras de infância. Percorreu as ruas e os caminhos por onde passara na sua infância. Enfim, e assim iam passando os primeiros dias depois do regresso a Luanda…

O PRIMEIRO ASSASSINATO
No mês seguinte ao do seu regresso a Luanda, ou seja no mês de Setembro (ela regressou em Agosto), logo que caiu a primeira grande chuvada sobre Luanda, Filomena Mariana Salomar (a Sedutora da Chuva) cometeu o seu primeiro assassinato. (Depois deste, seguir-se-iam mais sete).

Aqui, o Dr. Gabriel Dilamo fez mais uma pausa, tirou um lenço do bolso das calças, limpou um pouco de suor que lhe escorria na testa, tornou a meter o lenço no bolso e prosseguiu:

PROVÁVEIS CAUSAS DOS ASSASSINATOS
Filomena Mariana Salomar (a Sedutora da Chuva) foi violada sexualmente, como já dissemos, quando tinha 14 anos de idade. O adulto que a violou chamava-se “VASCO” e daí o ódio que ela sentia por todos os Vascos. Na altura da violação chovia torrencialmente e o adulto que a violou ameaçou-a dizendo, ao mostrar-lhe uma corda de nylon, que a estrangularia se ela gritasse.

A “Sedutora da Chuva” confessou-nos ainda o seguinte: disse ela que logo que o tempo começasse a prenunciar chuva, ela sentia uma agitação incontrolável dentro de si, sentia o sangue a ferver-lhe nas veias, sentia um ódio terrível por todos os “Vascos” e só o que queria era matá-los, exterminá-los a todos para que nenhum deles violasse outra menina como o que havia sucedido a ela.

CONCLUSÕES DA EQUIPA MÉDICA
A equipa médica conclui que, nos primeiros dias que se seguiram ao seu regresso a Luanda, o subconsciente de Filomena Mariana Salomar (a Sedutora da Chuva) se alterou, digamos que despertou do torpor em que se encontrava trazendo à tona todos aqueles momentos horríveis da sua violação sexual. E a chuva realçava, enfatizava, tornava mais forte essa lembrança amarga. Todo o seu trauma, que parecia adormecido, acordou subitamente depois de ela ter entrado de novo em contacto com o meio ambiente em que a sua violação sexual ocorreu. Então ela precisava de desabafar, e a forma que o seu subconsciente encontrou para esse “desabafar” foi aquele que todos conhecemos…

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Filomena Mariana Salomar (a Sedutora da Chuva), foi levada a julgamento e sentenciada a prisão maior pelos crimes que cometeu.


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Escrito por
Helder Oliveira
(Helder Ferreira de Oliveira)
(Do Livro (não publicado)
“Detective AlfaZero em Acção”

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-- Helder Oliveira --
(Helder de Jesus Ferreira de Oliveira)


 
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HelderOliveira
 
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