Sofia sempre acreditou que há um par para todo ímpar, assim como dizem os matemáticos. Coincidentemente, foi neste exato ponto que do interior do coração soou a voz instável e retumbante da velha caixa de papelão. Ridículo, como acordando de um pesadelo no banco do metrô, Grimaldi jazia encerrado num tubo de ensaio tridimensional quando começou a falar pausadamente, decidindo tentar a sorte quando Sofia, ali na frente, parecia mesmo bonita assobiando nos ouvidos de todos os presentes e ausentes.
Quase a prumo estava rente ao muro de contenção calculando a previsibilidade das médias geométricas. O desvio padrão calculado mecanicamente sempre vai existir, mas terrível como estrondo de vidro partido, em que pese o açougueiro ser um velho louco usando camiseta de lã em pleno inverno. Foi exatamente por isso que se aposentou o mecânico, repercutindo em todos os raios de ação além das planícies misteriosas que rodeavam o gabinete. Triste com a situação, Sofia passou então a vagar pelos prados, sem saber sequer o conteúdo do espeto.
Grimaldi insistia. Tudo ali era reflexo da vida maravilhosa, da madeira adornando pavões misteriosos, zelosamente dispostos sobre o mezanino da ilha sombria. Levando a uma criteriosa vida feliz frente ao mar, do outro lado do mundo. Ali desde novembro, quase colado aos pés, Sofia não podia ouvir com clareza devido aos latidos insistentes. Eram os que mais falavam. Mesmo assim, cada vez que olhava para as amarras florescendo nas espias, pensava se valia a pena. Como todas as pessoas de lá poderiam resolver, não pôde deixar de recordar sua passagem sobre os resíduos sólidos solutos na grama do quintal das casas de números pares, já que todos os gigantes perderam as asas quando deixaram o continente devastado vomitando a cordoalha ingerida com as amarras, engasgados que foram pelos ancoretes inoxidáveis.
O café tinha melhor sabor agora que sabiam que fora cultivado em local de altitude. Não estava tão ensolarado e quente, nem o mordomo era tão rico quanto o cocheiro em suas viagens pelo continente. Mas Sofia e Grimaldi estavam lá. Tão presentes quanto as visitas da velha senhora, única habitante da mansarda em ruínas. Daquele local, até mesmo as cortinas não resistiram e acabaram fugindo dos destroços do desastre nuclear, repartindo as águas vermelhas do mar espargindo por toda parte escamas prateadas salpicadas de terra roxa. E de quando em quando, desferindo mugidos, rugidos, gemidos, mesmo gritos longínquos se bem que breves e nem um pouco agradáveis aos sentidos.
No horário determinado para a execução, entre tremores de mãos e devaneios dos loucos, a horda recrudesceu. Os lagares refletiam o cuidado com as maravilhas que existiam no museu, mesmo distante, quase do outro lado do mundo conhecido pelos turcos famosos pelos gritos e sons de trovão. Suspirando, Grimaldi olhou de soslaio para Sofia. Não haveria clima para uma segunda noite de tremores naquele tempo chuvoso. Impossível seria sobreviver quando era evidente que se reuniam a cada mês.