ENIGMA
Cansaço infinito se apossou da mítica figura.
Ela, que tantos milhares de anos esticava-se ali...
Queria ser apreciada.
Também decifrada.
Caso contrário, devoraria...
Não, ela não era má.
Apenas cumpria o objetivo para qual fora criada.
Dos deuses antigos, a fiel serva amada...
Seus dias de glória não foram esquecidos na imensidão das eras.
Natural, pois mesmo sofrendo a erosão já esperada, mantinha firme a sua missão.
E ficava ali:
Noites, dias...
Frio e calor.
Entretanto, ela não sentia:
Fazia por amor.
Mesmo ao devorar quem não a decifrasse, tinha certo sentimento de piedade:
Fechava os olhos.
Então, seguia aquilo que suas ordens ditadas desde sua construção, mandavam fazer...
Não queria matar, mas precisava, se seu enigma não fosse descoberto.
Era assim que tinha que ser.
"Decifra-me ou devoro-te"
Outros tempos aqueles...
Agora, cansada, retoma à sua forma original:
Moça, bela, formosa, que pelos deuses antigos foi tomada em prova...
Descanse, figura.
Este é o seu momento.
Pois todos tem começo e fim.
Sua missão acaba aqui.
Pode rumar para as estrelas enfim...
Pelos \'deuses\' fora preparada.
Nada mais justo, que vá para sua morada.
Fátima Abreu