Contos : 

Amiga do esquecimento

 
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Sentada no cadeirão de madeira com o cheiro a lavado, encontrava-se recostada.
Esperava, como quem espera as estações do ano, com um sorriso de menina velha, pela amiga que há muito esquecera o nome.
Não se cansava, todos os dias sentada no cadeirão, a pensar quem sabe o quê, fitando o horizonte verde do campo.
Esperava.
Esperava e a amiga não vinha.
Quando passavam por ela a perguntar-lhe o que ali fazia, respondia sempre com aquele sorriso gasto: \"Estou à espera da minha amiga, ela disse-me para esperar aqui.\"
Aguardava pelo dia que nunca mais vinha, que há muito veio e ela não pôde esquecer.
Aguentava-se naquele cadeirão com rodas, fazia dois anos, esperando sempre pela mesma pessoa.
Dois anos no mesmo dia, dia após dia, na mesma hora, hora após hora.
Há setecentos e trinta dias que esperava e nunca mais vinha.

Sentada na cadeira de rodas onde era rainha.




 
Autor
Diogommalves
 
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