delusão
se te dissesse dos jasmins da minha igreja, ter-te-ia que falar da fé nos perfumes. da inocência das mãos, juntando os dedos em simetria de asas. das resinas aromáticas. da atmosfera dos domingos.
se te quisesse dizer que há uma memória de nós, regressaria ao laço do meu vestido de cetim-pérola, que a minha mãe me talhou no ventre. ou à água fresca que se resguardava no barro, nas tarde de sesta lenta.
ah, esse regresso às águas, onde sepultei os olhos por livre encanto! esse reconhecimento... que é de ontem, quando o ontem era um poço fundo de sedes e de ilusões.
sabes, há um limite natural entre o sonho e a ilusão: um friso de árvores coníferas, no risco fácil entre as cores de um deserto – entre o ouro e o azul. Sim, sabes? - o céu é só a continuidade das areias, esbatidas pela distracção onírica dos olhos.
nunca te esqueças da arquitectura das asas. da imponderabilidade da alma. da genialidade do ser. simplesmente seres. seres o pássaro que pousou no último pinheiro manso, aquele que fez pender a linha que divide as areias. não, não há horizontes fáceis. nem oásis óbvios. nem ciúmes... apenas e só delusões pequenas. nunca te esqueças.
teresa teixeira
Teresa Teixeira