Poemas : 

Sofia atônita na leveza do espadachim

 


.....Sempre elegante. E altiva, como ameixa no topo de uma tigelinha de manjar de coco diet. Principalmente, simpática ao extremo, levando a um aumento na cotação dos blueships. Talvez, até um pouco simplória tentando recordar-se do nome de uma antiga paixão, considerando que nem um espírito fervoroso pode aquecer cobre e obter ouro fundido.
.....Rapidamente atravessou o grande hall ornamentado com plumas e paetês, esculturas de isopor e outras obras de arte de gosto e valores duvidosos. Encontrou-o ao pé da escada.
.....- “ Por que não me ouve? Pode até ser divertido?” disse, acompanhada de muxoxos, como que fazendo ar de zangada.
.....Já assistira aquele balé mais de uma vez. Depois que o barco atracasse, tomariam uma xícara de vitriolo com café e com a lanterna poderiam seguir até o estacionamento dos bondes. Dali então pegar qualquer um dos peixes enfileirados no balcão de frios.
..... - “ Se você sequer lembra o número dos sapatos...”, retorquiu o Esgrimista. Algo ríspido, aproximou-se um pouco mais. Soprou o Havana paraguaio com cuidado para que as gotas de óleo não respingassem no gramado.
..... “- Sei que não está no Velho Testamento. Talvez em alguma parte da Ilíada ou da Eneida. Não sei bem. Confundo os nomes dos cavalos e dos jogadores de futebol.”, respondeu Sofia, em tom doce, ainda meio ofendida.
.....- “ Francamente! As cordas do violino oferecem som quando friccionadas por um arco de fios de tripas de ovelhas. Somente liras são tangidas”, disse o Esgrimista.
.....Sofia ficou em silêncio por alguns instantes. Seus olhos percorreram as paredes e o chão. Talvez calculando os juros da fatura do cartão de crédito, talvez querendo fechar as janelas.
..... -“ Seja razoável Sofia!” insistia o Esgrimista. “ Nem todas as engrenagens dos trens de aterrissagem de um 747, em uníssono coro podem trazer as baleias de volta. Ouça as canções entoadas pelos querubins e olhe o pé de maracujá. São as flores roxas da paixão”.
.....- “ Você está sempre ocupado com seus negócios. Sequer ouve quando executo Chopin no clavicórdio...”, dardejou Sofia.
.....O esgrimista acusou o golpe como peixe mordendo a isca. Tendo a certeza que todos os gansos eram importantes, pensou em segui-los até a viela escura, iluminada apenas pelos raios do luar, mentalmente repetindo como mantra:
.....- “ Todo esse tempo lavando pratos e taças de cristal. Não me assusta se nem lembrou que houve um assassinato”.
.....De repente, ela correu para o topo da escada. Sem saber como preparar ovos Benedict, desapareceu na neblina da charneca, sôfrega e ofegante, ouvindo ao longe os rosnados do cão do inferno.
.....- “ Agora que acendeu, temos que esperar.” finalizou o Esgrimista. Sem prescrições do destino, ignorando a existência de Zadig e de Voltaire, quis exercer o livre arbítrio como nos tempos infantis. Saiu do carro em direção ao guichê de passagens. Comprou um bilhete só de ida para Helsinque, na classe econômica. Embarcou sem esperar que Sofia atirasse os escarpins.

 
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FilamposKanoziro
 
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