Este é um poema louco,
Extravasei sentimentos, como poucos!
Fui ouvir os bêbados e fazer versos de seus sentimentos tristes;
Coloquei no meu poema o sorriso da boca sem dentes dos miseráveis;
Fui visitar os doentes mentais: pessoas muito lúcidas
Para se adequar a este mundo louco,
Eles me falaram de um mundo melhor,...
De seus sentimentos, de seus amores reprimidos,...
Então, chegou o enfermeiro com o “remedinho da hora”,
E convidou-me a ir embora!
Fui ouvir a razão... irracional do suicida:
Desprezo à vida? Não fiz verso... deixei uma lágrima caída!
Fui ouvir os surdos, os cegos, os mudos olhando suas faces, entendi tudo:
Fiz versos de conteúdo!
Peguei a estrada, encontrei o peregrino,
Disse que estava realizando um sonho de menino:
Chegar ao fim do mundo com o sol a pino!
O mendigo disse-me que foi rei em outra vida,
Por isso, prefere mendigar a obedecer!
Infiltrei-me no mundo do crime, tive presa, saí logo: o ar lá deprime!
Falei com os drogados, os viciados: não são andrajos humanos,
São seres humanos vencidos,...
“A razão tem razões que a própria razão desconhece!”
Com os prostitutos e as prostitutas,
Aprendi: eles são psicólogos, psicoterapeutas
Dos carentes de amor, dos que brincam de amor,
Dos que... querem só “fazer amor”!
Exausto, deitei no banco de uma praça:
Pensei em rasgar esses versos “sujos”
Tão cheios de sentimentos cujos
Ninguém imagina possa ter quem
Da vida recebeu seu quinhão em desgraça!
Em homenagem aos meus personagens,
Meus versos não rasguei!
Manoel De almeida