Esperando por você, é hábito, eu sei,
nas longas noites de solidão,
ninguém dobra uma camisa
assim como você tem sonhos.
Olho a janela, vejo realidade,
dou asas aos pensamentos,
reflito como pode
um colibri voar para trás,
ter sonhos mais curtos,
desaparecer nas nuvens cinzentas,
prenúncios de chuva de verão.
É num sussurro que vejo do sol,
caírem as lágrimas do verão,
cinzenta chuva novamente
concretiza remotas profecias
e não há na abóboda celeste
rascunhos de cálculos
no passar do longo inverno.
Pendurados dois cães abandonados,
sem nexo, nem solução final
para a crise de Fukushima.
Após uma curta separação,
em revoada ao longo da via,
como pássaros migratórios,
vejo seus olhos nas nuvens.
Diástole do coração irregular,
de volta ao verdadeiro lar,
sou apenas um espectador,
o importante é o seu amor,
quando vejo você nas nuvens,
não mantém a altitude,
irregular em queda livre,
na fresta da janela entreaberta.
Num gesto de desespero,
dou-lhe as minhas asas
para que voe para trás
até a fronteira celeste,
abandonando rascunhos,
circulando no azul,
em espiral rumo ao sol poente.
Enfim, na tarde de agosto,
entre a escuridão das sombras
dos meus suspiros apagados
no céu cada vez mais claro;
nas nuvens irregulares como estrelas,
coração relata janela aberta,
espero que os recados roubados
voltem ao verdadeiro lar