"...talvez seja a realização dos vaticínios
havidos nos sonhos da juventude..."
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Talvez assim possa viver
Sofrer em silêncio, eterno frio,
obrigado a participar de uma vida
que não desejo, nem reconheço.
Talvez seja a realização dos vaticínios
havidos nos sonhos da juventude,
agora pensei que havia aprendido
como odiar e amar, como esquecer.
Como poderia outra vez sentir
na face bafejos da aragem fresca
encerrado em poço profundo?
Talvez tenha apagado da retina
a visão de um dia de sol,
a brisa sobre a relva verde dos campos,
as andorinhas em revoada na torre.
De uma semente germinando no solo,
uma rosa se abrindo pela manhã,
recebendo o aljôfar de primavera.
Do casal de pombos arrulhando,
preparando-se sem medo
para enfrentar a tempestade.
Talvez nunca mais veja uma luz,
cegado estou pela ausência de amor.
Talvez seja necessário
apenas esquecer que estou vivo,
perder o hábito de ter desejos;
talvez assim também possa viver!
" ...descrevo sem fazer desfeita,
meu sofrer e meus amores
não preciso de receita
muito menos prescritores."