Não era mais possível Manuela viver com Arnaldo, mesmo para os anos 50...
Ele a tratava de forma agressiva, com palavras rudes e quase sempre, desfazia de tão linda criatura, falando mal de sua forma de cozinhar.
Muitas vezes ele a empurrou, noutras ele gritava para quem quisesse ouvir, que ela só servia como 'mulher objeto", na cama... Pois para ele era somente nesse campo, que Manuela se destacava...
Na verdade, era isso que os mantinha ainda juntos, depois de cinco longos anos...
Em um dia de embriaguez, quando ele quebrou algumas coisas contra o muro, chegando com raiva de seu sócio, Manuela tremia escondida no banheiro, com medo de que a fúria daquele homem se revertesse para o lado dela.
Decidiu então que já aguentara demais. Poria um fim naquilo.
Afinal, não fora criada em meio de desavenças: Nunca houve esse tipo de coisa, em seu lar paterno...
A princípio, pediu que ele fosse embora várias vezes.
Ele não se dava por entendido, e nesses momentos, a levava para a cama, onde ele achava que tudo se resolvia...
Sabia que Manuela era fogo em figura de fêmea. O caminho mais curto para convencê-la de qualquer coisa, era a intimidade sexual...
Mas, como tudo se desgasta com o tempo, ela não aguentava mais...
Numa manhã em que ele havia saído de casa, ela resolveu fugir.
Sabia que para os moldes da época em que vivia, que sair de casa, era abandono do matrimônio e consequentemente, seria mal vista pela sociedade local:
Era o mesmo que "falhar" como dona de casa e mulher.
Teria de ir embora para outro lugar, onde ninguém a conhecesse.
Os primeiros quilômetros na estrada, foram de táxi. Depois, ao chegar em uma estação de trem, comprou um bilhete para outro estado. Ali, recomeçaria sua nova vida!
Entretanto, ao chegar na primeira cidadezinha do outro estado, verificou que os albergues, pousadas e pequenos hotéis, estavam todos lotados.
Isso era devido à Feira do Gado e Hortifrutigranjeiros, que só acontecia duas vezes no ano, naquelas paragens.
Não tendo onde ficar naquele resto de dia e começo de noite, caminhou e achou um celeiro aberto, na fazenda mais próxima do centro da cidade:
Estava a apenas dois quilômetros e meio. Seria fácil no dia seguinte, caminhar de volta ao centro da localidade, tentando conseguir uma hospedagem.
O que ela não contava é que exatamente ali, em meio ao feno, encontraria a felicidade...
Dormiu tranquilamente, só sendo incomodada pelos insetos de vez em quando.
Quando amanheceu, teve uma surpresa ao abrir os olhos:
Um homem alto, rosto comum aos espanhóis, cabelos castanhos (cortados como soldado), dos seus 30 a 32 anos a olhava admirado.
A loira e bela Manuela, sentou-se e antes que ele fizesse qualquer pergunta lhe disse:
- Passei a noite aqui, porque não tinha hospedagem em local nenhum da cidade. Desculpe-me a ousadia. Esse deve ser o seu celeiro, acertei?
- Sim, na verdade era da minha família. Meus pais me deixaram de herança. Não se preocupe, porque não vou denunciá-la por invasão de propriedade...Está com fome?
- Oh, obrigada. Estou com muita fome sim. Não como desde ontem de tardinha...
Ele ofereceu a mão para que ela se levantasse e disse:
- Venha, tenho um café da manhã muito bom, na mesa da cozinha.
Manuela sorriu agradecida.
Era mais do que poderia esperar, para começo de sua nova vida...
Fátima Abreu