"... Às vezes, tenho por companhia ...a chuva,
tentando lavar minha tristeza ...”
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Gazal da tenaz esperança do sol
Gostaria de desvendar os caminhos da eternidade,
perceber todo arcano, suplantar esta imobilidade.
Uma vez mais poder experimentar humana emoção,
deixar de ser lembrança, ser apenas uma saudade.
Nada posso, sou punhado de cinzas em vala jogado;
tenho a companhia do sol, de mim ele tem piedade.
Às vezes, tenho por companhia as gotas da chuva,
tentando lavar minha tristeza, trazem suavidade.
Quando vem o entardecer, esta hora tão agoniada,
o sol posto morre como morri, da vida só na metade.
Tíbio por sobre a ermida, à tardinha morre comigo,
incansável faina diuturna, extrema é a pontualidade.
A menos dos relicários é o astro o meu único amigo,
reconheço a cotidiana lida, grato sou pela lealdade
Talvez o sol, toda manhãs, acalente com tenacidade,
a esperança de reviver os que jazem nesta herdade.
" ...descrevo sem fazer desfeita,
meu sofrer e meus amores
não preciso de receita
muito menos prescritores."