Ligação – religação - religião …
A palavra religião deriva do étimo latino “religio”, que quer dizer ligar novamente ou apenas religar. A Religião sempre foi definida e vivida , ao longo da História, como um conjunto de crenças relacionadas com aquilo que a Humanidade considerava como sobrenatural, Divino, Sagrado, Transcendente, bem como, um conjunto de códigos morais que derivavam disso em que os Homens acreditavam. A palavra Religião foi muito usada durante os séculos no contexto cultural europeu, marcando uma forte presença do Catolicismo que acabou por se apropriar, muitas vezes de forma errada, deste termo latino. “Sacudida” agora da poeira-dos-tempos, emerge em nós renovada! Religião significa, na verdade, como a própria palavra indica, religar! Religar duas dimensões! A Terra ao Céu, o Espírito à matéria, o corpo à Alma, por meio de um culto interior, de uma forma de meditação, ou, apenas, por valores Espirituais de conhecimento, que devolvem ao Homem, Energia para viver. Energias que o ligam ao seu lado metafisico. No fundo, o Sentido da Vida de cada um …
A Astrologia é, nesta sequência, uma Linguagem que nos ensina, com os seus “timmings” próprios, os ritmos do Universo, a religar, por meio de experiências que a Vida nos propõe, o nosso lado físico ao nosso lado metafisico. O fora ao dentro! O objectivo é a expansão da Consciência! Dois são os mundos que em simultâneo nos habitam, um exterior, a Vida como se nos apresenta, e outro, interior, como nós gostaríamos que a Vida se nos apresentasse. O nosso lado subjectivo, mundo interior, face ao nosso lado objectivo, mundo exterior. O equilíbrio entre eles significa religar os dois lados por meio da Consciência, por via do Coração! E eis o Sentido da Vida …
Quantos mais ciclos de Tempo (Saturno) vivermos, mais conscientes (Sol) poderemos estar. Isto se aceitarmos (Lua) a Vida que temos como ela é! É o Projecto da incarnação de cada um, a Viagem da Alma na matéria que evolui pela Via da Consciência. E Consciência é Espírito e Espírito Consciência!
Três são as partes que nos compõem e interagem entre si. Corpo, Espírito e Alma. O corpo é o veiculo, o temporal que somos, aquilo que com o tempo definha. A Alma é o que em nós é Eterno, o que não morre. Dois mundos opostos mas complementares como tudo o que nos rodeia, como tudo o que nos envolve, como tudo o que nos compõe – Céu e Terra, Bem e mal, homem e mulher, Verdade e mentira, noite e Dia, Sol e Lua … - o Yin e o Yang que o Símbolo do Tao representa. Os opostos são uma realidade em nosso torno. Realidade que devemos resolver por meio do Espírito, terceiro termo das partes que somos. Porque entre o corpo e a Alma situa-se o Espírito. E Espírito é fogo, e fogo é Consciência, isso que com o Tempo(Saturno) deveria expandir (Sol) na aceitação (Lua) das experiências que vivemos. O livre-arbitrio é a Via, é o Caminho … livre-arbitrio condicionado pelo facto de estarmos neste mundo dual, por muitas vezes não querermos estar mas por termos que estar. No entanto, livre-arbitrio total e incondicional quando se trata de aceitar ou não aquilo que a Vida nos propõe que vivamos. Aceitar ou não, ainda que doloroso, é responsabilidade total de cada um. Aceitar dói mas fortalece, constrói, fortifica. Recusar é entrar em depressão. E uma depressão é um não-à-Vida! Um desastre! E desastre significa ir contra os Astros.
Movimento cíclico do Sistema Solar que sempre pede que tudo o que É termine para recomeçar num novo, mais inteiro, intenso e profundo vir-a-Ser. Tal como o Sol que todos os dias “morre”, renasce, torna a “morrer” e a renascer, todos somos, ressomos e tornamos a Ser num eterno e cíclico vir-a-ser. Morrer e Renascer para voltar a morrer e tornar a renascer e assim eternamente a cada minuto de Vida. Não é à hora da morte que se aprende a morrer, é durante a Vida!
São os Ciclos da Vida … porque nada no Universo é eterno a não ser o Amor! Suporte do seu eterno movimento. Do caos para o Cosmos, da desordem à ordem, da violência à Paz, do inconsciente à consciência … o Amor é uma Lei!!! Entre a Terra e o Céu está o Homem, o terceiro termo desse conflito que, tem, pela Via da Consciência e da energia do Coração, a possibilidade de fazer esta religação de opostos e resolver o drama da divisão.
Cristo veio Ensinar o Caminho ...
O Amor e aceitação da morte pela Via da Cruz como única saída de possível Consciência. Aceitar, abraçar e beijar a própria Cruz significa aprender a Amar, religar dois mundos, romper a divisão, expandir a Consciência, alargar o Coração. Amar o próximo, perdoar, dar a outra face, dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, olhar para a Humanidade como família ... é esta a única ética possível neste mundo! Consciencializar e “agir” como Deus, resolver a divisão, refazer a Unidade, construir o Amor. É ir para lá da Cruz, ressuscitar, ver o mundo com novos olhos. Os olhos do Amor. É a Evolução! A verdadeira e única Evolução possível neste mundo onde vivemos.
Vénus é o seu Planeta regente. O Planeta do Amor. Cristo veio, através do seu Sacrifício, e Sacrifício significa, Sacro-Oficio, ou seja, Oficio-Sagrado, “ancorar” Vénus, o Amor como única Lei-de-Salvação Universal, na matéria, ao aceitar incarnar num corpo físico. Foi quando a energia Balança desceu à Terra pela primeira Vez numa dimensão real. Até aí, vivia-se ainda, numa espécie de “limbo”, pseudo-amoroso, onde os Homens, distantes, estavam em processo de conecção com um Deus rígido e frio, como nos revela o percurso do Povo de Israel no Antigo Testamento. Até aí o Amor era ainda uma filosofia. Cristo veio ensinar que é necessário e urgente passar aos actos. Se dizes Amar alguém então age em conformidade! Não o digas apenas, vive-o, mostra-o, prova-o … e surge o Novo Testamento, o Testamento do Amor!
É esta a grande Mensagem de Cristo latente na Energia Venusiana de Balança. “Ama o teu Irmão como a Ti mesmo ...” Energia que também rege Touro, a primeira Terra do Zodíaco. Planeta que habitamos e que Amorosamente nos recebe. O Amor à nossa Incarnação! Comemorar o Natal, é sermos responsáveis, à semelhança de Cristo, Deus-menino nascido, pelas nossas Vidas. Assumirmos a nossa incarnação com tudo de fácil e difícil que ela tem! Aceitar e viver a nossa Cruz resolvendo o conflito que ela nos propõe. O Amor é a saída!
Três são as energias Universais simbolicamente subjacentes nesta pequena dissertação. Vénus, Júpiter e Saturno.
Em Astrologia, Júpiter simboliza os Valores, a ética, as Leis Universais ligadas à Casa IX, a Casa do Sentido da Vida. Casa das grandes Religiões, das grandes Filosofias. Júpiter simboliza o Céu, o Yang, o metafisico. É em nós a Alma! Saturno é o Tempo, a Terra, o yin, o temporário, o passível, a incarnação, o corpo físico. Vénus é o Amor, a partilha, a energia Balança onde os outros se apresentam como nossos “espelhos”. É onde acontecem as relações e onde, progressivamente, se pode abrir o Coração à descoberta do Amor no caminhar de cada dia sobre a Terra … porque quando nascemos sobre a Terra, nascemos jovens, débeis, difusos, imaturos, divididos, dependentes, bipolares, confusos, esquizóides...
Inicia-se, no processo de nascimento de cada um, o processo de incarnação sobre o Planeta. O nosso processo de “salvação”! A Alma, o “metafisico em nós”, o intemporal, o Eterno, o Céu - Júpiter - baixa à Terra, o corpo, o físico, o temporário – Saturno.
Eis a dualidade, os dois mundos, a divisão de que falei, na qual estamos imersos e na qual todos tomamos parte. É o projecto de Deus para cada um de nós. Nascemos divididos num mundo dividido com o objectivo de tornar à Unidade perdida – à consciência! O Retorno à Casa do Pai de que Cristo nos falou! A Unidade perdida! A Inocência esquecida!
Saturno chama para a Terra, Júpiter expande para o Céu. É o Céu que baixa à Terra “ancorando” na “carne” e que pela via da Consciência, ainda in carne, deve tornar ao Céu pela aceitação e integração das experiências que vai vivendo. Vénus, o Planeta do Amor, que rege o chacra do Coração, é o terceiro elemento deste dilema. Elemento que vem fazer a mediação entre estas duas energias contrarias e complementares que nos habitam. Pois só o Amor salva, só ele tem como resolver qualquer conflito e harmonizar qualquer discordância. Assim nos ensinou Jesus Cristo que aceitou morrer para o provar. A cruz é o conflito. E Ressuscitar é ir além da cruz, o que só é possível pela via da Consciência do Amor em nós. Porque Consciência é Amor e Amor é Consciência!
É esta a Eterna Religação a que estamos “condenados”, o corpo que deve aceitar a Alma e a Alma deve reverenciar o corpo. Consciência que elevará o homem a um Amor e a uma responsabilidade Universais pela sua incarnação!
Saturno deve aceitar Júpiter e Júpiter deve reverenciar Saturno pela via de Vénus. Vénus que poderá levar o Homem, à semelhança de Cristo, a Neptuno, pela via da Paz interior. O Amor pela Humanidade. E esta a verdadeira e intima ligação que devemos, de Vida-em-vida refazer, a fim, de construir, aquela que será a Religião do Novo Mundo, a Religião do Novo Tempo. A Religião do Homem consciente da Alma que tem, incarnada no corpo que possui, seguro pela Terra, inspirado pelo Céu.
A conjunção Saturno/Júpiter/Vénus é a “estrela-dos-magos”, a estrela-de-Belém para cada um de nós! Na Vida de cada um de nós! A incarnação do Amor como um valor Espiritual na pessoa de um Homem que, enviado por Deus, sendo filho de Deus, é o próprio Deus que vem à Terra trazer o Amor como uma experiência real, única via consciente para a evolução e salvação da Humanidade. E a Humanidade somos cada um de nós! Neptuno é a ultima palavra, o verdadeiro ideal, o que já está para lá de Vénus. Intima palavra de salvação. O Amor eterno e incondicional capaz do maior e mais profundo sacrifício pelos outros como um acto-de-Amor, um oficio-Sagrado. Aceitar morrer por quem se Ama porque se Ama é sepultar o ego para que a Alma ascenda. E isto significa estar em comunhão com Cristo. Única comunhão possível...
Natal é Tempo de memória. Tempo de celebração. Celebração de um outro Tempo antigo. Aquando de um luminoso nascimento: Deus, no seu Filho, baixou à Terra dos Homens, “... e a noite fez-se dia!” Enorme acontecimento! Não é, no entanto, velado na “poeira da História, encapsulado em vagos sentimentos ou preso na teia obscura da memória que Cristo permanece. Revela-se pela abundância de uma secreta mutação. Na vibração Eterna que é a Vida da Alma. É na presença subtil do seu tempo interior que, de novo, em cada Ser humano, o Cristo se manifesta. No intimo silêncio do seu viver interno, na Alquimia do sangue, no espaço do incomunicável. Natal é Tempo vivo. Tempo presente. Natal é para todos e cada um, uma imensa oportunidade de Luz maior. Natal é mais um dia de uma Eterna revelação …
Que a Paz prevaleça pela Consciência do Homem sobre a Terra e que o Cristo sempre nos una …
Em Deus
Ricardo Louro
Ricardo Maria Louro