O corpo me é dado – e com que fim,
Meu corpo único, tão de mim?
Pela alegria chã de respirar,
Silenciosa, a quem devo louvar?
Sou jardineiro e sou flor – cativo
Na prisão do mundo sozinho não vivo.
E já nos vidros da eternidade
Cai meu calor, meu sopro respirado.
Nela se grava um desenho pra sempre,
Irreconhecivel de tão recente.
Escorra do momento a água turva –
O desenho amado não esbate à chuva.
Ossip Mandelstam (1891-1938), poeta russo, perseguido e preso por Stalin, na Sibéria.
Imagem: Pinturas da Sibéria: Homem pensando de ALYCONE.