se amor houvesse, bastar-me-ia isto para desaprender o meu caminho, para vagar da praça mauá à cinelândia sem direcção, quieto e calado, pequeno, leve, para me perder nas curvas e becos da cidade nua, para que me diluísse na multidão? seria suficiente para tocar os teus cabelos, para guiar os meus dedos por sob a tua saia até o teu húmido reduto, para desejar ouvir de ti um gemido? se amor houvesse, bastar-me-ia isto para admirar o céu do aterro, insano e vasto, amplo, alto, para criar asas que me levariam até ao sol repetindo o voo de ícaro? bastar-me-ia que nos encontrássemos num horizonte de eventos, que a tua respiração se fundisse à minha, que eu tornasse a crer em sonhos? se amor houvesse será que tu entenderias que por tua causa desaprendi o caminho, por tua causa vagueei sem direcção, por tua causa perdi-me, por tua causa parei para olhar o céu, por tua causa tornei a sonhar?