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De como Sofia ouviu a voz do coração

 


Nem mesmo o passaporte diplomático cuidadosamente falsificado em Antuérpia facilitou a agonia. Entre os passageiros - alguns com olhos fixos no topo do guindaste - Sofia esperava o próximo coletivo. Acima, muito além, em meio aos mais distantes astros da galáxia, brilhava como estrela em todo seu esplendor uma Angelina mastectomizada.

Mais uma vez imaginava que não poderia acender um abajur duas vezes com o mesmo raio. Ouviu uma débil voz murmurar seu nome seguido de uma interrogação:
“- Você está respirando bem no meio de toda esta poluição? Por que usa esses escarpins de verniz se não é um fantasma? “ E foi somente tudo que ouviu do primogênito.

Arrepiou-se sentido calafrio percorrer o cóccix, judiado que fora devido à anomalias estruturais agravadas por uma queda. Não conhecia como intacta e tão limpa a terra delicada. Fora arrancada do paraíso sem nenhuma delicadeza, sem cuidados com a falta de decência das vítimas e a cor dos granitos das sepulturas.

“- Não se deprima com isso. Posso ouvir o som do coração de uns três menudos sacudindo as pélvis. Jamais deixarei que morra a chama deste amor! “ Respondeu.

Expressou-se com voz firme, em timbre claro e altissonante, porém, sem muita certeza se o slamp daquele concreto estaria nos padrões para rompimento de corpos de prova. Ah! Bem sabia do destino nos pensamentos obscuros, do frio como gelo vermelho pingando sangue. Da cautela para aproximar-se do fogão a fim de tentar secar lágrimas sem queimar as bochechas. Foi aquele proceder tão espúrio que a fez tornar-se objeto de todos os discursos e comentários após o jogo já que, mais de uma vez, não levantou os vidros ao entrar naquele lava rápido.

“- Depois que o filho do rei de Espanha for coroado saberão que as cinzas estão desaparecendo ... Para mim o importante é saber qual será o primeiro queimador de DVD atualizado para 8.1 que poderei baixar na baía do pirata. E ademais, tenho certeza que suporto ver o gelo se romper.”, conjecturou mentalmente depois que percebeu que não havia interlocutor nenhum.

E por que teria acontecido isso? Eu digo a vocês. Foi incisivamente para honrar os compromissos, saldar a dívidas sem perdoar os devedores livres para caírem em outras tentações. A todo custo, proteger seu lado direito, livrar-se do mal, mais fotogênico com a luz natural incidental. Por que, dos muitos corações que conhecera, apenas de um fez as vontades, na terra e no iate.

Deixou-se ficar sentada, vaidosa da qualidade da medula do osso ilíaco. Queria ver todo o céu em movimento naquele caleidoscópio barroco, como recebendo carícias sem responder indecisa. Tudo isso com algum entusiasmo, mas nunca, nunca mesmo apaixonadamente.




in As palavras Desconstruídas - Filampos Kanozrizo

 
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FilamposKanoziro
 
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