Rumo à padaria para comprar com meu último Real, os cinco pãezinhos franceses que essa quantia dava,
eu andava pela rodovia Amaral Peixoto.
Na volta, resolvi ir por outro caminho.
Andava cabisbaixa pensando na vida: (MARICÁ)*
Pela Avenida Guarujá*, recém asfaltada.
Seguia e repentinamente olhei para o céu nublado.
Pedia Sol.
O vento trazia ao panorama geral, uma tristeza momentânea...
Dessas, de final de filme dramático.
À minha direita, percebi restos do que fora um dia, uma cantina:
Do tipo que se vende doces e biscoitos de salgadinho amarelo, que só fazem mal para a saúde.
Tinha aquela tradicional portinhola com batente (com um coração pintado em branco acima), por onde se atendia a quem chegasse.
Sempre desconfiei que o batente fosse para alguém se debruçar e jogar 'conversa fora', pedindo sempre algo para disfarçar sua permanência no local.
Eu mesma fiz isso, umas duas vezes na vida.
Recordo bem:
Uma vez, foi para pedir um leite achocolatado, naquela antiga embalagem longa vida de triângulo.
E na outra, foi para beber uma água gasosa depois de uma longa caminhada.
Tem dias que precisamos fazer isso: Sair, caminhar ao vento, esquecermos que temos que voltar.
Aí chegamos perto de uma pequena cantina, pedimos alguma coisa, só para puxar uma conversa por instantes, com alguém que nada sabe sobre você.
Um ouvinte anônimo. Assim como também você seria para ele.
A cantina que vi hoje, ficava anexada à uma casa velha amarela, beirando a cor de mostarda.
O quintal cercado por arame farpado, algum dia teria sido bem cuidado:
Pois havia árvores frutíferas como duas bananeiras que eu pude notar. Agora, era apenas um monte de folhagens pelo chão e lixo espalhado.
Quando olhei novamente para a casa, vi que um senhor já grisalho, parecia observar a rua, sentado em uma cadeira rente à janela.
Aquela casa deveria ter uma história triste, que culminou com o abandono que era perfeitamente observado por quem passasse ali.
Lembrei então, de outra vez que fiz esse mesmo trajeto e vi que outro senhor mais velho do que o de hoje, era levado gritando:
- Não sou louco, me deixem quieto!
Sim, ali o ambiente tinha uma névoa cinza, pior do que o céu nublado sobre nossas cabeças.
Precisavam de Sol.
Fátima Abreu