Poemas : 

Smells like a teen spirit

 
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Eu me lembro
Das canções que ouvia,
Dos clipes que via
E de me sentir
Como o vocalista
Do Nirvana
Jurando não ter
Arma ou lembrança.

Eu me lembro
Do que vivi.
E de como chorava
Pensando nas meninas
Que eu amava,

De como rezava
Pedindo a Deus
Que me desse com elas
A paz de um himeneu

E me livrasse
Daquela cela
De onanismos
E breu.

Eu lembro
Que eu era só
Um menino tímido
Com os sonhos
De um libertino

E que nunca fui
Puro, impoluto
Ao som de prédicas
E hinos,

Mas ardente minuto
Louco para beijar
Os seios da mãe
Do absoluto
E alcançar o nirvana
No regaço
De quem ama.

Eu lembro
Como pensava,
De pau teso,
Em seios e grelos,
Como me esfregava
Nas coxas da empregada,

Como me curava
De minhas taras
Com outros meninos
No chuveiro
E depois ia com eles
Chupar sete-belo
E bala soft
Nos recreios.

Eu lembro
Que me curava
Com muito açúcar
E coca-cola
Sentado debaixo da árvore
No meio do pátio
Da escola

E que nas aulas
De raiz e cosseno
Eu só queria,
Como em Bandeira,
Tomar ópio e veneno.

Eu me lembro
De nunca ter
Raspado a cabeça
E sempre me sentir nu,
Sem defesas,

De como nadavam
As meninas,
De como furavam,
Em vigorosa natação,
A água cristalina
Enquanto eu sozinho
Via tudo
Segurando minha prancha
Como um escudo
Numa ilha.

Eu me lembro
De vestir o meu quimono,
Aflito e timorato
Para o exame de faixa,
E nunca me sentir pronto
Para enfrentar o garoto
Que aplicava uchimatas.

Eu me lembro
Daquelas tardes
De melancolia,
Das lágrimas furtivas
E mal sabia
O quanto eram iluminadas,
Porque vivia preso
A gaiolas e grades
Do medo,
Porque me sentia
Sempre o mais feio.

Eu lembro
O quanto me sentia
Frágil e pequeno,
Ave sem asa
Ou brisa,
Sem coragem
De sair, de voar
E correr pelas ruas e praças,

De segurar minha bola
E não ter ninguém,
Nenhum amigo
Que ma chutasse de volta,
Que brincasse comigo.

Eu me lembro
De estar sempre sozinho
E de ter me tornado
Esse homem calado
E comezinho

Que ainda
Ouve canções
Do Nirvana,
Repleto de lembranças,
E procura namoradas
E amigos
Para voar livre
Como os passarinhos
E não me sentir mais
Como um menino.

 
Autor
Felipe Mendonça
 
Texto
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