Será que te enfrentas ao espelho
só para poderes ver as atitudes,
Que te transformam num aparelho
privado de estudos e virtudes,
E o meu erro é querer que tu mudes
mas isso não é de todo possível,
E o meu erro é pôr-te em altitudes
que tornam o teu pedestal indestrutível,
E aí não mais me vês: Invisível
aos teus olhos de vista grossa,
Baralham o português: Imperceptível
numa fala que antes era só nossa,
E admito que por mais que possa
começam a faltar-me as energias,
Porque cada soco teu faz mossa
e expõe todas as minhas hemorragias,
Antes eu queria-te nas cirurgias
hoje suplico por outro cirurgião,
Porque quando precisei de vigias
tu disseste não estar de plantão,
E não poderia ser pior a ocasião
em que eu te jurei amor eterno,
Numa cerimónia cheia de religião
tu estavas de vestido e eu de terno,
Clássico, é impossível o moderno
inventar a calma ao romantismo,
E tu só inventaste o inferno
para me expores a alma ao nudismo,
E chegámos ao fim do meu optimismo
e com ele o final da nossa história,
Pois tu transformaste o mecanismo
do sempre em eternidade provisória.