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não tirem o vento às gaivotas - sampaio rego sou eu
não gosto de rotundas – rotunda. proveniente do termo em latim: rotundus. em linguagem de mestre-de-obras significa toda a construção em forma de círculo – as rotundas da minha terra nasceram para dar vitórias-rotundas aos mestres-da-política – todas as rotundas são filhas de atos eleitorais e oriundas de várias famílias políticas – miscigenação – sem a promiscuidade das várias linhagens políticas as rotundas nunca encontrariam habitat favorável à sua reprodução – ostentando formas de mistura pouco condizentes com os costumes do povo nativo. impõem a sua cultura correligionária com o seu “modus operandi” e depressa esquecem a ligação de um povo a uma terra que os guarda à séculos – esta gente. simples. honrada e determinada. sempre teve por hábito caminhar em linha recta superando as adversidades da construção infindável de um estado-nação – a nossa história tem raiz. alma. paixão. sacrifício. língua e muita coragem. não somos um povo qualquer. e que. por via disso. não conseguimos compreender esta nova obrigação de tornear rotundas-ocas. rotundas-de-eleição – rotundas estas que não servem para coisa nenhuma a não ser a permuta do voto – estes comportamentos indignos. indecentes. indecorosos quebraram todas as normas da respeitabilidade do homem-político trazendo o descrédito a toda classe – para aristóteles. o homem é um animal político atingindo a sua plenitude no espaço da pólis – para este filósofo a “cidade ou a sociedade política” é o “bem mais elevado” e por isso os homens se agrupam em comunidades. da família à pequena aldeia – esta aliança do bem-comum dá origem às cidades e aos estados – onde está este homem-político? talvez só tenha existido mesmo na antiguidade – o que seria de nós sem os filósofos? onde encontraríamos o saber. esperança. lisura. escrita do bem. o pensamento puro. não digo o pensamento sem erro. digo puro. decantado do pecado. da ambição desmedida – não sei. não sei mesmo. sei que fazem falta. quero acreditar no conhecimento como remédio de todos os males – os homens das rotundas. profetas do prazer. discípulos de epicuro na parte que lhes servem os intentos da ganância. esquecem o princípio fundamental da sua doutrina de vida: a amizade – não acreditava na vida para além da morte mas acreditava na generosidade do dar prazer em vida. acreditava que era fundamental dar prazer para o poder receber – dito por outras palavras. “o melhor meio de ser egoísta é não ser egoísta - sereis vosso melhor amigo. sendo um bom amigo para os outros” – as rotundas do meu tempo não fazem amizades; são redondas mas não simbolizam a aliança do povo com os seus representantes políticos – não há honra nas minhas rotundas. victor hugo diz: "há pessoas que observam as regras de honra como se veem as estrelas: de longe” – o meu país está doente. muito doente e esta nossa gente não merece esta dor de um mal que não é hereditário – na origem destas novas doenças estão os políticos de um regime que se diz democrático – mentira. o poder não é do povo – transmissíveis ao homem pelo homem. independentemente da sua cor política. o corpo desumaniza-se numa crueldade animal em nome de uma militância interesseira – o que estava morto já não está mais – o pecado voltou a despontar. e o reaparecimento de enfermidades que pensávamos ultrapassadas voltam a emergir – as revoluções dos povos contra a tirania dos valores da dignidade humana ainda não terminaram – várias são as teorias formuladas pelos sociólogos para o aparecimento destas novas estirpes – no entanto. apesar dos estudos ainda não serem conclusivos. um grupo de estudiosos aponta para a principal causa destas maleitas à mutação do vírus – as principais características desta nova praga são a flexibilidade. adaptabilidade e mutabilidade – embora este vírus necessite de uma célula hospedeira para se reproduzir. este manifesta um facilidade rara para a reprodução de cópias. dando origem não à morte do hospedeiro mas à infeção crónica – os mais afetados com este vírus-parasitário são os idosos. crianças. desempregados. jovens licenciados. contratados a prazo. entre outros – infelizmente não se vislumbra nenhuma vacina a curto prazo para exterminar esta estirpe parasitária – só com uma nova filosofia política seremos capazes de erradicar para sempre esta desumanidade – as rotundas são filhas de muitas mães e raramente se sabe quem é o pai biológico – mas afinal para que servem as rotundas? as rotundas foram construídas principalmente para os atos eleitorais – depois do escrutínio dos votos. os vencedores. isto é. os que tiveram mais votos. são impelidos a circular na rotunda das rotundas – a mãe de todas as rotundas – festejam aos pulos e de punho no ar gritam vitória – vitória. vitória. vitória. até que o dono da vitória lhes diz que está na hora de saírem da sua rotunda – o DNA está contaminado e os santos já não são agostinhos – o pecado veio para ficar. não há remição da desvirtude. nem retiros espirituais capazes de salvar as almas de gentalha que vive à custa do sofrimento do seu semelhante – já ninguém fala. gritar é felicidade e nas rotundas grita-se – o povo da rotunda está satisfeito – quem não está na rotunda não é da boa gente e quem não salta é estúpido – brevemente teremos mais um círculo eleitoral e mais uma rotunda para quatro anos